Moradores do povoado de Angico, na cidade de Campo Alegre de Lourdes,
divisa da Bahia com Piauí, atearam fogo em um galpão montado pela
construtora Andrade Gutierrez para abrigar funcionários contaminados
pelo novo coronavírus.
Segundo a construtora, os moradores do local chegaram a usar armas para
ameaçar os trabalhadores e, de acordo com a Polícia Civil da Bahia,
foram contidos pela Polícia Militar.
O episódio aconteceu na manhã
de ontem. Um inquérito foi instaurado para investigar o caso. Ninguém
foi preso e nenhum trabalhador sofreu ferimento. Ontem a Andrade
Gutierrez decidiu suspender os trabalhos por 15 dias.
No domingo, 24, um homem que trabalha na obra do Linhão T-BAPI em
Pilão Arcado (BA), morreu no hospital de Buritirama (BA) depois de
apresentar sintomas da covid-19. A Andrade Gutierrez, responsável pela
obra, fez teste nos trabalhadores, constatou que 34 deles estavam
contaminados e decidiu levar tanto os que testaram positivo quanto os
suspeitos de contaminação para locais onde pudessem ficar em isolamento.
Parte foi transferida para Barreiras (BA) e outra parte para Campo
Alegre de Lourdes.
Segundo a prefeitura de Campo Alegre, os
trabalhadores foram alojados em duas pousadas e uma casa. A Vigilância
Sanitária municipal fez testes rápidos nos trabalhadores e identificou
outros dois contaminados.
A notícia rapidamente se espalhou levando pânico à população. Na
quarta-feira a prefeitura pediu à construtora que os trabalhadores
fossem levados para outra cidade, com mais infraestrutura de saúde, já
que Campo Alegre, com seus 28 mil habitantes, não teria condições de
atender à demanda.
"Após intensa negociação durante todo o dia,
entre a Prefeitura e o Consórcio Linhão T-BAPI, ficou acordada a
transferência de todos os funcionários que aqui estavam para a cidade de
Barreiras [que tem 155 mil habitantes]", disse a prefeitura, em nota.
"No entanto, ao amanhecer do dia de hoje (28) tivemos a informação de
que a empresa havia transferido os funcionários da sede do município
para o canteiro de obras do povoado de Angico (da estrada do Remanso),
causando uma revolta muito grande na população da comunidade",
complementa a prefeitura.
Segundo relato de um servidor municipal
que não quis se identificar, um grupo de moradores do vilarejo de
Angico, alguns deles armados, foi até o canteiro de obras e, sob
ameaças, expulsou os trabalhadores. Na sequência, os moradores atearam
fogo ao galpão de lona onde os trabalhadores fariam a quarentena
provocando um início de incêndio.
A Andrade Gutierrez, também por
meio de nota, informou que as obras foram suspensas. Os trabalhadores
que tiveram testes negativos voltaram para suas cidades de origem e
foram orientados a cumprir quarentena em suas casas. Os contaminados
continuam em isolamento em alojamentos da empresa.
"A construtora e
o consórcio ressaltam que o isolamento não coloca em risco a população
local, uma vez que as instalações têm amplo espaço e todos os cuidados
estão sendo adotados (...) Além disso, a medida de paralisação também
foi tomada visando a integridade física dos colaboradores, uma vez que
populares usaram de violência nos últimos protestos, inclusive com uso
de armas. A Andrade Gutierrez e o consórcio lamentam a postura violenta
de populares que em nada contribui para a resolução de um problema de
saúde pública e lembram que seus funcionários são um extrato da
sociedade, estão exercendo suas profissões e trabalhando pelo país,
portanto merecem respeito e acolhimento de todos", disse a construtora.
A
Andrade Gutierrez não informou em quais cidades ficam os alojamentos. A
prefeitura de Campo Alegre de Lourdes ingressou com uma ação judicial
na qual pede a retirada dos trabalhadores contaminados da cidade sob
pena de multa de R$ 50 mil por dia. UOL