Após uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro neste
sábado (1º), o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que não
se sente esvaziado no cargo. Ele disse que permanece na pasta e
representará Bolsonaro na sessão solene de abertura do ano legislativo
no Congresso nesta segunda-feira (3).
– As coisas vão continuar a seguir seu rumo normal. Falamos muito e
revisamos a mensagem presidencial ao Congresso. Eu vou levar na
segunda-feira porque Bolsonaro vai estar em São Paulo – afirmou.
Onyx disse ainda que não discutiu com Bolsonaro sua possível saída da
Casa Civil. A reunião entre eles durou cerca de 1 hora e 20 minutos.
– Nós nem conversamos sobre isso, nós conversamos sobre as tarefas do
ministro da Casa Civil a partir já agora do meu retorno das férias.
Hoje já conversamos sobre a rotina normal, então, fica tudo igual, não
mudou nada – afirmou.
Bolsonaro tem buscado uma saída para a crise política protagonizada
pelo ministro da Casa Civil. O auxiliar, por sua vez, trabalha para se
manter no cargo. A Casa Civil foi esvaziada quando o presidente decidiu
retirar da pasta o PPI (Programa de Parceira de Investimentos) após
demissão, recontratação e nova demissão de Vicente Santini, então
secretário-executivo de Onyx.
Santini foi destituído do cargo por Bolsonaro após viajar com duas
assessoras em um voo exclusivo da FAB (Força Aérea Brasil) de Brasília
para Davos (Suíça), e de lá para Déli (Índia), episódio que foi
classificado de imoral pelo presidente.
O secretário chegou a ser realocado na pasta, mas, após repercussão
negativa, Bolsonaro decidiu demiti-lo novamente. Segundo Onyx, o assunto
é “página virada”.
– Nós conversamos sobre isso, mas isso é página virada, ponto final.
Conversamos hoje e é isso, está resolvido. O presidente tomou suas
decisões, Jair Bolsonaro é meu líder, a decisão que ele toma é a decisão
que tem que ser acatada – afirmou o ministro.
O ministro buscou minimizar a perda do PPI para a Economia.
– Nós, já lá atrás, quando fizemos o programa de governo, de julho de
2018, lá está o PPI na Economia, é uma demanda antiga da Economia.
Acabou ficando um período na Secretaria Geral, depois veio para a Casa
Civil, e o presidente tomou a decisão de mandar para a Economia, assim
como isso já aconteceu com a Cultura, que estava na Cidadania e foi para
o Ministério do Turismo. Faz parte de decisões de governo e a gente
acata – disse.
Sobre a mensagem que será lida no Congresso, Onyx disse que o texto vai reafirmar o norte do governo.
– A redução do tamanho do Estado, a agilização e a ampliação da
capacidade de comunicação com o cidadão. Quando a gente entrou [no
governo], tinha 20 ou 30 serviços digitalizados. Hoje nós já
contabilizamos mais de 500. O cidadão pega seu celular e fala com o
governo. Queremos chegar até o final do governo com mais de 2.000
serviços digitalizados – disse.
Questionado especificamente sobre a reforma administrativa, Onyx
afirmou que é claro que ela também constará da mensagem aos
parlamentares.
– Na mensagem está o quê? Que o governo continuará fazendo as
reformas que o Brasil precisa. Este é um governo que vem fazendo uma
série de reformas, começamos com a Previdenciária. Nós estamos
trabalhando agora com a reforma do pacto federativo. Durante décadas
vocês [jornalistas] escreveram que os prefeitos e governadores vinham a
Brasília apenas de pires na mão. Nós mandamos ainda no ano passado uma
reforma do Estado que vai permitir a reformulação do pacto federativo.
Onyx montou uma articulação para tentar arregimentar apoio pela sua
permanência na Casa Civil. Ele conversou com deputados bolsonaristas e
com militares governistas, como Heleno. Deputado federal licenciado pelo
DEM-RS, Onyx é um dos ministros da chamada ala ideológica do governo.
Segundo auxiliares presidenciais, Bolsonaro avalia três hipóteses
para Onyx caso sua permanência na Casa Civil fique inviável. Entre as
possibilidades estão os Ministérios do Desenvolvimento Regional, o da
Cidadania e o da Educação.
As duas últimas pastas já são comandadas por aliados do ministro
gaúcho -Osmar Terra e Abraham Weintraub, respectivamente. Essa saída, na
visão do Palácio do Planalto, seria a menos traumática.
Caso opte por alocar Onyx na Educação, Bolsonaro atenderá ainda à ala
do governo e a congressistas que cobram a demissão de Weintraub. O MEC
está no meio de uma crise decorrente de problemas nas notas do Enem, o
que afetou também o sistema de seleção para instituições de ensino
superior, o Sisu.
Weintraub ainda tem sido criticado pelo presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), que o chamou de desastre. Para o deputado, o ministro
“atrapalha o Brasil”.
Gustavo Canuto, do Desenvolvimento, é outro ministro que também está
desgastado com Bolsonaro. Desde o ano passado, o presidente tem se
queixado de seu desempenho e cogitado retirá-lo da pasta.
Para conseguir fechar a equação, Bolsonaro tem buscado um nome para o
comando da Casa Civil. O favorito é Jorge Oliveira, mas o ministro tem
demonstrado resistência. O plano estudado por Bolsonaro é fundir a Casa
Civil com a Secretaria-Geral da Presidência.
Um plano B seria a nomeação de um dos líderes do governo para
comandar a articulação política, como Fernando Bezerra (MDB-PE), do
Senado, e Eduardo Gomes (MDB-TO), do Congresso. A indicação de Bezerra,
no entanto, enfrenta um empecilho.
Ela pode inviabilizar que seu filho, o deputado federal Fernando
Coelho (DEM-PE), assuma Minas e Energia em maio, quando o ministro Bento
Albuquerque deverá ser indicado para uma vaga destinada à Marinha no
STM (Superior Tribunal Militar). Pai e filho são alvo de investigação da
Polícia Federal sobre desvio de verbas em obras no Nordeste.
Além do mais, articuladores políticos de Bolsonaro consideram que
trazer um parlamentar para o Planalto, neste momento, pode ser
contraproducente. Eles argumentam que prestigiar o MDB poderia
desencadear um movimento por mais espaço na Esplanada vindo de partidos
que votam com o governo.
Outro nome ainda é cotado para a Casa Civil: o do secretário especial
de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho. Ele foi o articulador da
reforma da Previdência no Congresso, aprovada no ano passado.
* Folhapress