BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um
artigo reservado do diplomata Ernesto Araújo com proposições de política
externa tais como a “contestação ao eixo globalista
China-Europa-esquerda americana” selou seu ingresso na equipe
ministerial do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
O texto, obtido pela reportagem, que Araújo fez chegar ao núcleo da
campanha em setembro, foi o primeiro passo para sua posterior nomeação
como chanceler do futuro governo.
Intitulado “Por uma política externa do povo brasileiro”, o artigo,
de cinco páginas, é propositivo, uma espécie de carta de intenções.
Nele, o diplomata revisa o pacifismo nacional (“não estamos no mundo
para ser Miss Simpatia”) e sugere um realinhamento internacional do
Brasil com o eixo de direita populista em ascensão.
“É o caso dos Estados Unidos com Donald Trump, da Itália com seu
atual governo, de alguns países da Europa do Leste como Polônia e
Hungria. É o caso talvez de alguns países não ocidentais que desejam
defender suas próprias civilizações e suas nações frente ao globalismo
dominante”, escreve.
Em sua interpretação, “há países que resistem à demonização do
sentimento nacional, ao esmagamento da fé (principalmente da cristã),
que rejeitam o esvaziamento da alma humana e sua substituição por dogmas
anêmicos que servem apenas aos interesses de dominação mundial de
certas elites”.
A reportagem o procurou para comentar o teor. Araújo respondeu que
era complicado e que conversaria a respeito depois, o que não ocorreu.
Com a vitória nas urnas, a primeira das sugestões do artigo já foi
anunciada: a saída do Brasil do Pacto Mundial para Migração, que propõe a
cooperação internacional para enfrentar ondas migratórias.
No texto, Araújo já defendia o que chamou de “dessacralização da
imigração, combatendo a ideologia do ‘imigrante intocável’, do direito
universal à migração sobrepondo-se à soberania nacional”.
O texto propõe a “renacionalização das políticas comerciais”,
alegando não se tratar “de negar o comércio, mas de tornar a política
comercial um instrumento do Estado, e não [fazer do] Estado um
instrumento da política comercial”.
Nessa linha, Araújo defende que o Brasil questione os Brics, bloco
formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Sugeriu que se
tente, no lugar, constituir “um agrupamento nacionalista Brasil – EUA –
Itália – (Rússia?) – (Índia?) – (Japão?) – (países de Visegrado?)”, em
suma “um Brics antiglobalista sem a China”.
Os países de Visegrado são Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia.
Sem entrar em detalhes, o futuro chanceler faz uma proposição
inusitada no campo da geopolítica, que causou estranhamento entre
interlocutores de Bolsonaro. Para Araújo, conviria ao governo “explorar a
possibilidade de um núcleo composto pelos três maiores países cristãos,
Brasil-EUA-Rússia”.
Ele expressa preocupação particular com a questão da fé, requerendo
“promoção da liberdade religiosa, notadamente defesa do espaço para o
exercício da fé cristã, ameaçada e acuada em todo o mundo”.
À China são reservadas numerosas linhas. Araújo quer impor ao país,
principal parceiro comercial do Brasil, “pressão em todas as frentes”.
“Condicionar qualquer avanço na relação com esses países ao exercício
da liberdade religiosa e liberdades políticas básicas”, propõe.
“Utilizar os organismos financeiros internacionais para frear a
crescente dependência dos países em desenvolvimento em relação ao
capital chinês. Virar o jogo da globalização contra a China.”
Em sintonia com o discurso de Bolsonaro, Araújo defende a “liquidação
do bolivarianismo nas Américas”. Segundo o diplomata, “o Brasil poderia
comandar o processo de deslegitimação do governo Maduro na Venezuela e
pressão total, juntamente com os EUA, para sua substituição por um
regime democrático”.
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