Quando o ministro das Relações Exteriores (MRE), Ernesto Araújo, foi
indicado para o cargo pelo ideólogo Olavo de Carvalho, imaginava-se que o
poder do escritor brasileiro radicado nos Estados Unidos, ficaria
restrito à algumas indicações ou a um ou outro pitaco na política do
governo.
No entanto, a demissão do embaixador Paulo Roberto de Almeida,
na segunda-feira 4 do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais (Ipri), órgão vinculado ao MRE, mostra que há um
sério conflito ideológico no Itamaraty, sob orientação do escritor, que
teria muito mais força na condução da política externa brasileira do
que se julgava. Toda a confusão ocorreu quando o embaixador Almeida
postou, em seu blog pessoal, textos críticos à condução da política
externa, com trechos de uma palestra do ex-ministro Rubens Ricupero e de
um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a respeito da
Venezuela. A publicação dos textos foi vista pelo chanceler Ernesto
Araújo como uma crítica indireta ao seu trabalho.
Personalidade bizarra
O problema é que a gama de críticas à política externa acabou
incomodando também Olavo de Carvalho. Após ser exonerado do Ipri, o
embaixador fez críticas ao atual chanceler em seu blog, alegando que
Araújo fora indicado para o cargo não por sua capacidade técnica, mas
por sua ligação íntima com os filhos do presidente e com Olavo.
“Adicionalmente, meu blog trouxe críticas a uma personalidade bizarra do
momento político, totalmente inepta em matéria de relações
internacionais, mas ao que parece grande eleitor nas circunstâncias
atuais”, disse.
O embaixador deixou claro que sua exoneração foi pedida por Olavo de
Carvalho. “O fato de eu ter ofendido o ‘Professor’ foi demais para o
chanceler. Ele não suportou minha ironia corrosiva contra a suprema
ignorância demonstrada pelo sofista da Virgínia em matéria de comércio
internacional”, complementou o embaixador. Em uma lavação de roupa suja,
Almeida afirmou que até o momento Ernesto Araújo não definiu quais
seriam as principais diretrizes da política externa. “Eu até gostaria de
escrever alguma coisa a respeito da ‘nova política externa’, mas não
tenho a menor ideia do que seja essa coisa”, atacou. “O que temos até
aqui são invectivas contra o globalismo, o climatismo, as migrações, o
marxismo cultural, a ideologia do gênero e outras bobagens”,
complementou Almeida.
Internamente, integrantes do Itamaraty destacam que o embaixador foi
corajoso em expor uma situação que tem tirado o sono de outros
diplomatas. Eles alegam que de fato o chanceler ainda não definiu qual é
o foco da política externa e garantem que dentro do órgão vive-se um
clima de “caça às bruxas”. Se isso não bastasse, os próprios integrantes
do governo foram protagonistas, na semana passada, de mais uma
trapalhada. O ministro da Justiça, Sergio Moro, foi obrigado pelo
presidente a demitir do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária a advogada Ilona Szabó, que ele mesmo havia nomeado.
Bolsonaro obrigou o ministro a voltar atrás depois de ter sido
pressionado por seguidores nas mídias sociais que identificaram a
advogada como ligada à esquerda, numa demonstração cabal de que a “carta
branca” dada a Moro só valerá quando ele tomar decisões do agrado do
presidente. Istoé
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