Segundo a polícia, outras cinco crianças da creche foram identificadas
com os mesmos sintomas, porém, não chegaram a fazer exames.
O exame comprovou a ingestão de clonazepam, uma substância
tranquilizante que só pode ser usada em crianças com orientação e
acompanhamento médico.
O filho da Keli Nascimento Antoniolo foi quem fez o exame. Segundo a
mãe, a criança já foi internada várias vezes na Santa Casa da cidade,
uma delas em outubro do ano passado, quando ela tinha 11 meses.
Nesta ocasião, ela foi internada depois de sair desacordada da creche
municipal Valter Peresi. “A escola ligava e eu e meu marido íamos
buscar, ele estava abatido, olhar longe, vomitando, às vezes ele
desmaiava. De desmaio já foram três ou quatro vezes, mas de ligar para a
gente ir buscar era direto”, afirma Keli, que é educadora infantil.
Segundo a mãe, da última vez que ele foi levado para a Santa Casa foram
três dias internado. A mãe procurou a Secretaria de Educação para fazer
um relatório de queixa.
Nele, a diretora da escola acrescentou que, segundo as educadoras que
cuidam das crianças, o bebê chegou "bem na escola, alegre, brincando e
se alimentou bem no início da manhã".
No mesmo relatório diz que, durante a tarde, as educadoras perceberam
que a criança estava com aspecto mole, de sonolência. O bebê começou a
vomitar e desmaiou. A família procurou a polícia e o bebê passou por um
exame toxicológico.
“Para a nossa angústia e desespero, deu positivo, deu no organismo dele
que encontraram clonazepam. Estavam dopando o nosso filhinho na
creche”, afirma a mãe.
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou, tanto no exame de sangue quanto no de urina, a presença de clonazepam.
Perigo e investigação
Segundo o pediatra Jorge Haddad, essa substância não pode ser usada sem prescrição, ainda mais em se tratando de crianças.
“Ela pode ter uma intoxicação leve, dependendo do número de gotas
aplicadas, como sonolência, moleza, pode ser moderada, e às vezes grave,
levando coma, depressão respiratória e até morte”, diz o médico.
A Polícia Civil abriu um inquérito e suspeita que este não seja um caso
isolado. Cerca de 20 pessoas, entre parentes das crianças e
funcionários da escola, já prestaram depoimento na delegacia que
investiga o caso.
O inquérito já conta com mais de 100 páginas e deve ser concluído em um
mês. Até agora a polícia já identificou seis crianças, alunos da mesma
escola, que apresentaram quadro clínico parecido.
“O fato é o mesmo, agora com mais vítimas, com horizonte maior, todos
serão ouvidos para apurar as consequências dessa atitude em cada uma das
crianças”, afirma o delegado Raymundo Cortizo.
Uma outra mãe, que prefere não se identificar, diz que o filho, aluno
da mesma creche, apresentou os mesmos sintomas quando tinha sete meses,
assim que começou a frequentar a creche. Ela chegou a levar a criança
desacordada para o hospital.
“Ficou um dia e meio na semi UTI e um dia no quarto. Os médicos fizeram
todos os tipos de exame, tomografia, ressonância e ninguém sabia o que
tinha acontecido com ele”, afirma.
O que diz a prefeitura
A Prefeitura de Votuporanga disse que nenhum medicamento é administrado
nas escolas municipais para as crianças, com exceção daquelas que
possuem receita médica e os pais mandam medicação e as instruções, como o
horário e a dosagem do remédio.
Em relação à denúncia, a prefeitura disse que a Secretaria de Educação
foi procurada pelos pais de uma criança no final do ano passado e não
por várias, como traz o boletim de ocorrência.
A secretaria relatou o caso à Procuradoria Geral do Município mas, na
época, não havia resultado de exames médicos ou qualquer outro material
com embasamento legal que determinasse providências administrativas.
Mesmo assim, a Secretaria da Educação orientou educadores, técnicos e
profissionais das escolas municipais. A secretaria ainda não foi
notificada quanto à abertura de inquérito.G1
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