A omissão de uma palestra remunerada sobre combate à corrupção dada
pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, em setembro de 2016, quando era
juiz federal, foi revelada na edição de hoje do Jornal Folha de São Paulo, em conjunto com site The Intercept Brasil.
Ao jornal, Moro confirmou que por “puro lapso” não informou
que esteve em Novo Hamburgo (RS) e falou sobre combate à corrupção para 2
mil pessoas no dia 24 de setembro de 2016. Na época, Moro era o juiz
responsável pelas ações da Lava Jato.
Resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de junho de 2016
passou a obrigar juízes de todas as instâncias a registrar informações
sobre palestras e atividades classificadas como docentes. Segundo o
Tribunal Regional Federal da 4ª região, Moro declarou participação em 16
eventos externos em 2016, e essa palestra não consta na prestação de
contas.
Em mensagens divulgadas pelo jornal, Moro, em 22 de maio de 2017, se
lembrava do evento. Ele disse ao procurador Deltan Dallagnol, por meio
do aplicativo Telegram, que um executivo do Grupo Sinos (que contratou a
palestra em Novo Hamburgo) queria o contato de Dallagnol para fazer um
convite:
“Ano passado dei uma palestra lá para eles, bem organizada e bem
paga”, diz Moro. “ Passa sim”, responde o procurador, coordenador da
força tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba.
A Folha divulgou que Moro recebeu entre 10 mil e 15 mil reais pela
palestra, segundo disse uma pessoa que participou da organização do
evento. O Grupo Sinos é dono de uma emissora de rádio e jornais da
região de Novo Hamburgo (RS)
Em 15 de março de 2008, o procurador esteve no mesmo teatro em Novo
Hamburgo (RS) e palestrou para 600 pessoas. Em mensagem para sua mulher,
Dallagnol disse ter cobrado 10 mil reais. “Ficaram vidrados,
aplaudiram no meio e de pé ao fim. Engajados”, diz a mensagem de
Dallagnol.
Entenda os vazamentos
Desde o dia 09 de junho, o Intercept vem revelando uma série de
conversas privadas que mostram Moro e procuradores, principalmente
Deltan Dallagnol, combinando estratégias de investigação e de
comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das
operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de
investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT).
O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do
prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em
massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.
Como as revelações vieram a público por uma
reportagem, ainda será necessária uma extensa investigação,
provavelmente conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as
implicações jurídicas.
O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.
Fonte do Intercept
Segundo reportagem publicada nesta sexta-feira (26) pela VEJA,
a fonte que entregou os diálogos ao jornalista Glenn Greenwald negou
que também tenha sido responsável pela invasão ao Telegram do Ministro
da Justiça, Sergio Moro.
Em mensagens trocadas em 5 de junho, o
Greenwald pergunta à fonte se ela havia lido uma reportagem da Folha de
S.Paulo sobre a invasão ao celular do ministro.
O título da matéria dizia que o hacker usou
aplicativos do aparelho e trocou mensagens por seis horas. “Posso
garantir que não fomos nós”, responde a fonte, em mensagem transcrita de
forma literal.
“Nunca trocamos mensagens, só puxamos. Se
fizéssemos isso ia ficar muito na cara”, diz a fonte em outra mensagem,
antes de criticar o método de ação empregado contra o ministro. “Nós não
somos ‘hackers newbies’ [amadores], a notícia não condiz com nosso modo
de operar, nós acessamos telegrama com a finalidade de extrair
conversas e fazer justiça, trazendo a verdade para o povo”. Exame
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