“Os humildes serão exaltados, e os exaltados serão humilhados”, disse
certa vez o Filho de um carpinteiro nascido na Galileia. Pois o rapper
americano Kanye West, cristão e que acaba de lançar um dos discos gospel mais bem-sucedidos da história – Jesus is King,
que nessa semana chegou ao primeiro lugar da parada americana – não
prestou muita atenção nessa parte do discurso do nazareno.
Num recente
seminário musical realizado nos Estados Unidos, ele disse que pretende
adicionar ao seu nome as palavras Cristão, Gênio e Bilionário. “Quando
as pessoas dizem que é grosseiro dizerem que são bilionárias, penso em
adotar esse nome por um ano”.
Cristianismo e megalomania sempre fizeram parte do dia-a-dia
do versejador de 42 anos, um dos melhores de sua geração. Na canção Jesus Walks,
de 2004, o rapper tinha dúvidas em expressar a sua devoção. “Eu quero
falar com Deus, mas estou com medo porque não nos falamos há muito
tempo”, dizia a letra. Hoje essa questão não é mais problema para West,
que relata: “Quero falar com Deus, não tenho medo”. A questão do ego,
embora presente nas atitudes do rapper, casado com a celebridade Kim Kardashian, é um dos pontos centrais de Jesus is King.
Conceitualmente, vai ao encontro dos discos anteriores do rapper,
sempre disposto a contar uma história. No caso, sobre alguém que desejar
servir a Deus, mas é dominado pelo medo e pelo ego. Ele é apresentado
na canção Selah como um sujeito agressivo e abusivo – chega a
gritar com o motorista –, mas temente a Deus. No fundo, se sente traído
pelos amigos e por si próprio. Estende as mãos para o Senhor, mas lhe
falta confiança (Follow God). Ironiza a própria religião, mas se mostra preocupado com a família e as tentações da sociedade (Closed on Sunday).
Everything We Need está estrategicamente colocada no meio de Jesus is King. Porque ela mostra a redenção do tipo descrito por West nas primeiras faixas do álbum. Everything… é o momento em que supera suas questões internas e aceita Deus. Para isso, é batizado (Water), renega o pecado (Hands On) e abraça a religião com fervor (Jesus is Lord).
Mas é uma pregação empolgante. Produzido por West e pelo argentino
Federico Vindver (que, assim como o rapper, é cristão), tem rap,
samples, bateria eletrônica, mas também traz um coro gospel e naipes de
metais.
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