O Céu é visto por muitos cristãos como o lugar para onde os salvos
vão após a morte, mas o respeitado teólogo britânico Nicholas Thomas
Wright afirma que essa é uma compreensão equivocada.
O
bispo anglicano aposentado publicou um artigo em que resgata a percepção
dos primeiros cristãos sobre o Céu, que via o Paraíso como fruto de uma
nova criação divina.
“Para entender o que os primeiros seguidores
de Jesus acreditavam sobre o que acontece após a morte, precisamos ler o
Novo Testamento em seu próprio mundo – o mundo da esperança judaica, do
imperialismo romano e do pensamento grego”, introduziu N. T. Wright.
“Os
seguidores do movimento de Jesus que cresceram naquele ambiente
complexo viram ‘Céu’ e ‘Terra’ – o espaço de Deus e o nosso, se você
preferir – como as metades gêmeas da boa criação de Deus”, acrescentou
ele, no texto publicado na revista Time.
Esses cristãos acreditavam que a ressurreição de Jesus Cristo
mostrava que Deus uniria Céu e Terra, formando um ambiente em que as
mazelas não existiriam: “Eles acreditavam que Deus então ressuscitaria
Seu povo dentre os mortos, para compartilhar – e, de fato, compartilhar
Sua mordomia – essa criação resgatada e renovada. E eles acreditavam em
tudo isso por causa de Jesus”, enfatizou o teólogo.
“Jesus
incorporou em si a fusão perfeita de ‘céu’ e ‘terra’. Portanto, em
Jesus, finalmente, a antiga esperança judaica havia se tornado
realidade. A questão não era ‘irmos para o Céu’, mas sim que a vida do
Céu chegasse à Terra”, acrescentou ele, antes de destacar que na oração
ensinada por Jesus, os fiéis são ensinados a orarem para que o Reino de
Deus venha à Terra como no Céu.
N. T. Wright afirma que a
compreensão atual – que ele reputa deturpada – surgiu muito tempo atrás:
“Desde o século III, alguns professores cristãos tentaram misturar isso
com tipos de crença platônica, gerando a ideia de ‘deixar a Terra e ir
para o céu’, que se tornou popular na Idade Média. Mas os primeiros
seguidores de Jesus nunca seguiram esse caminho”.
“As Escrituras
de Israel haviam prometido há muito tempo que Deus voltaria pessoalmente
para habitar com Seu povo para sempre”, destacou, afirmando que os
primeiros cristãos mantinham essa compreensão. “Estudar o Novo
Testamento historicamente, em seu próprio mundo (em vez de esmagá-lo e
cortá-lo para atender às nossas próprias expectativas), mostra que os
primeiros cristãos não acreditavam que eles ‘iriam para o céu quando
morressem’, mas que, em Jesus, Deus viria morar com eles”.
“É difícil para nós, modernos, entendermos isso: tantos hinos, orações e
sermões ainda falam de ‘irmos para o Céu’”, sintetizou o teólogo.
No entanto, diz ele, “o livro do Apocalipse termina, não com as almas
subindo ao céu, mas com a Nova Jerusalém descendo à terra, para que ‘a
morada de Deus esteja com os humanos’”.
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