O G1 entrou em contato com a igreja e com o pastor Sílvio Ribeiro. Ele disse à reportagem que se manifestará na terça-feira (3).
O culto foi realizado no último domingo (1º). No panfleto de
divulgação, a igreja anuncia: "O poder de Jesus contra o coronavírus:
venha porque haverá unção com óleo consagrado no jejum para imunizar
contra qualquer epidemia, vírus ou doença".
Conforme a delegada Laura Lopes, o inquérito foi instaurado para apurar
a possibilidade de crime de charlatanismo, que, conforme o Código
Penal, seria "inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível".
Nos próximos dias, ela deve começar a ouvir pessoas ligadas à igreja.
Pela veiculação do folder, a delegacia instaurou a investigação, que
tem 30 dias de prazo para conclusão. Até o momento, a Polícia Civil
afirmou que só tem conhecimento deste caso.
"A gente tem o folder que foi nos encaminhado, que diz que imunizaria o
coronavírus. Uma equipe de policiais foi até o culto, era um serviço
discreto, mas tinha gente que conhecia eles e não foi tão discreto",
afirma.
"Eles [policiais] perguntaram, falaram com pastor e fiéis, e em
princípio nada de ilegal ali foi constatado", detalha a delegada.
O culto foi filmado e está disponível na internet. Nas imagens, o
pastor Sílvio Ribeiro diz que "se você tem o Espírito Santo, a doença
vai cair quando chegar em você. O Brasil vai pegar esse demônio aí pelo
sangue de Jesus. Não vai ser casa de demônio.” Em outro momento, exclama: "o coronavírus é a trombeta de Deus
proclamando arrependei-vos (repete).
O que é o coronavírus? Não é pra ti
(repete), eu vou profetizar, ninguém que é lavado, remido, redimido,
perdoado, justificado, inspirado, ungido, lavado, salvado pelo sangue de
Jesus, vai morrer", afirma.
10 denúncias ao MP
Até a tarde de segunda, o Ministério Público do Rio Grande do Sul havia
recebido 10 denúncias sobre a suposta promessa de curar ou proteger do
coronavírus pela igreja. O anúncio foi encaminhado para as Promotorias
de Justiça Criminais, de Proteção à Saúde e às Promotorias de Justiça
Cíveis, para a verificação do tipo de conduta e eventuais consequências
legais, afirma o órgão.
“A incolumidade pública e em especial a saúde da coletividade é
devidamente tutelada”, diz a coordenadora do Centro de Apoio Operacional
de Defesa dos Direitos Humanos, Angela Salton Rotunno.
Para a procuradora, a conduta dessas pessoas pode se enquadrar nos crimes de charlatanismo ou de curandeirismo.
Ela frisa, ainda, que se houver comprovação de vantagem remuneratória,
também essa falsa promessa pode caracterizar estelionato. Durante o
culto gravado, os pastores mencionam a possibilidade de doações de
valores, inclusive disponibilizando máquinas de cartão aos fiéis.
Por fim, é possível que as pessoas que se sentirem prejudicadas busquem
a devida indenização remuneratória por eventual custo com deslocamento
ou pagamento de dízimo.
“Diante da doença e da possibilidade de morte, é comum o ser humano se
sentir desesperado e desamparado. Essa fragilidade emocional afasta a
racionalidade e traz, como consequência, a facilidade em acreditar em
qualquer promessa de proteção ou cura. É o que está acontecendo no
momento. Pessoas inescrupulosas tentam obter vantagem desse desalento”,
disse Angela Rotunno.
Já o presidente do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers),
Eduardo Neubarth Trindade, afirmou ter "extrema preocupação" com
manifestações como as da igreja.
"Algumas religiões utilizam da crendice da população para falar em
tratamentos que substituem o tratamento convencional. Sabemos da
importância da religiosidade como tratamento complementar.
O que nos
preocupa é que falam de um óleo que protegeria. As pessoas não fazem a
prevenção adequada e não procuram o atendimento adequado quando
apresentam os sintomas. Esse é o grande perigo. Isso já acontece há mais
tempo com tratamentos substitutivos. Como é uma doença infecto
contagiosa, pode ajudar a disseminar", analisa.
Ele reforça que todos os cuidados devem ser tomados em caso de aparecimento de sintomas do coronavírus.
"Sigam todas as orientações, mantenham higiene das mãos, distância de
pacientes com sintomas virais e, se apresentar sintomas, procurar
atendimento médico em tempo hábil. Siga sua fé, mas não substitua o
tratamento convencional por religião. São duas coisas distintas. Vamos
separar a religião da questão da saúde. O mais importante é disseminar a
informação", finaliza.G1
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