Ao mesmo tempo em que vários setores da economia sentem os reflexos da paralisação forçada,
alguns negócios conseguiram se destacar e atender às novas necessidades
dos consumidores. O aumento da demanda tem sido tão grande que até
mesmo vagas de emprego estão sendo abertas em supermercados e na área de
entregas.
O empresário Guilherme Sette, por exemplo, nunca registrou
tantos pedidos no estabelecimento que inaugurou há quatro anos, a
distribuidora e conveniência A Tal da Bebida, no Lago Norte.
Segundo Sette, mesmo com o fato de o foco da empresa sempre ter sido o delivery,
foi a necessidade de as pessoas ficarem em casa que fez as vendas
explodirem. “Quando começou a pandemia, chegou muito pedido de
acumulação: 10 caixas de pilha, 12 embalagens de papel higiênico… Era um
atrás do outro”, lembra.
Com o passar do tempo, as solicitações
voltaram a ser feitas em pequenas quantidades, mas um produto em
especial passou a ser demandado com muito mais frequência: a cerveja.
“Essas lives sertanejas têm sido uma loucura. No último sábado, eram
dois pedidos por minuto. Preciso ter uma pessoa só para aceitar os
chamados”, destaca.
Trata-se de um aumento de 150% nas vendas quando comparado ao período
pré-pandemia. O horário de funcionamento precisou ser ampliado, assim
como o número de funcionários. “Já tínhamos dois motoqueiros contratados
e, agora, estou com outros oito como freelancer. Na loja, eram seis
trabalhando e, atualmente, são 16. E passamos a abrir pela manhã”,
pontua o proprietário da distribuidora.
Para Guilherme, apesar de
estar crescendo em um momento de dificuldade para o mundo inteiro, ele
fica feliz em saber que está colaborando com algumas pessoas. “Na
família de um dos nossos funcionários, todo mundo acabou perdendo o
emprego, menos ele. Então, graças a essa demanda nossa ele está
conseguindo ajudar todo mundo”, relata Sette.
As boas vendas também refletem nas drogarias do DF. Conforme conta o
presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos
do Distrito Federal (Sincofarma-DF), Francisco Messias Vasconcelos, de
fevereiro para março, o aumento médio de venda nesse setor foi de 60%.
“Foi um faturamento que podemos considerar como o ‘Natal’ das
farmácias”, ressalta.
Vários produtos, como álcool em gel, máscaras e luvas, ficaram sem
estoque, além de outros medicamentos conhecidos por revigorar o sistema
imunológico. “Chegamos a limitar a venda de vitamina C, por exemplo, a
uma unidade por cliente. Foi uma procura grande”, lembra.
É preciso, no entanto, ter cautela e não se empolgar, assinala o
sindicalista. As vendas no mês de abril já diminuíram e Vasconcelos não
prevê outro mês tão bom assim.
Dobro da média
Na drogaria
Menor Preço, na QR 604 de Samambaia Norte, por exemplo, o último mês
registrou o dobro da média de vendas esperada. “O aumento veio logo após
o decreto e isso durou por, pelo menos, outras duas semanas com a saída
de analgésicos, antigripais, produtos homeopáticos, própolis, vitaminas
e até calmantes”, elenca a farmacêutica Lorena Ferreira.
Para
ela, o expressivo número de pedidos foi uma surpresa, já que o
estabelecimento é frequentado, normalmente, pelas mesmas pessoas da
região. “As entregas aumentaram, os clientes também. Foi preciso que
rearranjássemos o horário dos nossos entregadores, pois muita demanda
estava acontecendo no período da noite”, comenta Lorena.
Na rede de supermercados Super Veneza, que tem cinco unidades no DF, é também o delivery que abre portas para contratação. Com demanda cinco vezes maior de entregas, um novo cargo surgiu.
“Tivemos que criar a função de separador de compras, tamanho o número de pedidos. A gente tentou fazer o remanejamento apenas, mas precisou mesmo contratar umas 20 pessoas só para isso”, relata o gerente geral da empresa, Givanildo de Aguiar.
Segundo ele, os carros e
motos da rede passaram a não ser suficientes. Dessa forma, novos
veículos precisaram ser comprados. “Agora, são mais seis motos para dar
conta. Eram 60 entregas por dia e passaram a ser 300”, ressalta.
Apesar
de, no geral, Givanildo afirmar que o movimento chegou a cair nos
supermercados da rede, ele conta que seria impossível não abrir novas
vagas de emprego na situação em que as unidades do Super Veneza se
viram. “O delivery é a nossa válvula de escape. Toda crise gera uma
oportunidade, e a nossa foi a de aproveitar o movimento de ficar em
casa”, frisa.
Conforme conta o presidente da Associação do
Supermercado de Brasília (Asbra), Gilmar Pereira, as primeiras semanas
após o anúncio da pandemia registraram aumento significativo na procura
por diversos produtos nos supermercados. “A depender do local, foi cerca
de 20% ou 30%. Foi muito mais pelo desespero de que pudesse haver um
desabastecimento”, comenta.
Pereira crê que o movimento voltará ao
normal com o passar do tempo. “As vagas abertas foram pontuais, por
causa da necessidade. À medida que as pessoas ganharem confiança de que
está tudo sob controle, não imaginamos que as vendas voltem a um pico
igual ao que vimos no final de março”, salienta.
Psicóloga on-line
Os
atendimentos da psicóloga Juliana Gebrim também passaram a ser mais
requisitados. Com o isolamento social e o avanço da doença, os horários
da profissional, das 8h às 19h, ficaram cheios e, com isso, a fila de
espera subiu 30%.
“Passei a atender por vídeo, por causa das
medidas de isolamento social, mas a procura aumentou. São pacientes meus
que vão indicando a familiares ou amigos”, explica.
Conforme
relata Juliana, os quadros de ansiedade e depressão têm aumentado
durante este momento de dúvidas sobre o futuro pelo qual o mundo passa.
“A pessoa acaba se expondo demais a informações que, nem sempre, são
verdadeiras. Minha orientação é para que o foco seja sempre a saúde ao
invés da doença, e procurar fontes seguras para se informar”, pondera a
psicóloga.
Metropole
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