A crise econômica enfrentada pelo Brasil nos últimos anos prejudicou ainda mais as famílias mais pobres. Depois de mais de uma década em declínio, a fome voltou
a crescer e atingiu 10,284 milhões de pessoas de meados de 2017 a
meados de 2018 — o correspondente a 5% da população brasileira.
Divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) mostra que a insegurança alimentar grave havia recuado de 8,2% da população em 2004 e para 5,8% em 2009. Em 2013, a proporção havia cedido para 3,6%.
A melhora registrada ao longo de uma década tirou o Brasil do Mapa Mundial da Fome
em 2014, segundo relatório global divulgado à época pela Organização
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O Brasil foi
um dos destaques do relatório daquele ano. O indicador da fome volta
agora a mostrar piora no país.
Para identificar o número de pessoas em situação de insegurança
alimentar grave, caracterizada pelo consumo insuficiente de alimentos,
inclusive entre as crianças, o IBGE consultou 57.920 domicílios entre
junho de 2017 e julho de 2018, período abrangido pelo governo Michel
Temer.
Os resultados mostram que 36,7% das famílias brasileiras vivam com
algum nível de insegurança alimentar, o correspondente a 25,3 milhões de
domicílios. Essa insegurança é dividida conforme a severidade: leve
(24% do total das famílias), moderada (8,1%) e grave (4,6%).
Outro grau de severidade, a insegurança alimentar moderada inclui
famílias que sofrem com a falta de alimentos, mas não passam fome.
Segundo o IBGE, 8,1% das famílias estavam nessa situação no período de
2017/2018, frente a 4,6% em 2013.
Já a proporção de famílias em situação de insegurança alimentar grave
subiu de 3,2% em 2013 para 4,6% em 2017/2018, atingindo 3,1 milhões de
domicílios. Nesses lares faltou alimentos, inclusive entre as crianças,
com a fome sendo “uma experiência vivida”, segundo a pesquisa.
“Observamos que houve redução da segurança alimentar. Percebemos características que conhecemos desses domicílios com insegurança alimentar, como menor acesso saneamento básico. Despesas de consumo, como habitação, levam boa parte do orçamento dessas famílias”, diz.
O período da pesquisa foi marcado pelo lento processo de recuperação da
economia após a recessão de 2014 a 2016, oriunda de equívocos da gestão
macroeconômica de anos anteriores. Foram anos de desemprego elevado,
perda da renda, aumento de miseráveis no país.
A situação mostrou-se mais grave nas regiões Norte e Nordeste, um
padrão que se repete em outros indicadores sociais. Na região Norte,
10,2% dos domicílios pelo menos um morador tinha fome, seguido pelo
Nordeste (7,1%). O percentual era menor no Sul (2,2%) e Sudeste (2,9%).
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