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O ministro Luiz Henrique Mandetta anuncia a sua demissão Foto: EVARISTO SA / AFP |
BRASÍLIA- Após ser demitido nesta quinta-feira, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta convocou aos servidores do ministério para que façam uma defesa intransigente "da vida, do SUS e da Ciência".
Com 76% de aprovação segundo pesquisa Datafolha do início de abril, o
ex-ministro afirmou que "a ciência é a luz, o iluminismo", e pediu a
todos que "apostem suas energias através da ciência'. Mandetta foi
aplaudido de pé ao chegar ao auditório do Ministério da Saúde para sua
última entrevista coletiva como ministro, após reunião com o presidente
Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto.
O
clima de tensão entre Mandetta e Bolsonaro já se arrastava há algumas
semanas devido a divergências na condução da crise causada pelo novo
coronavírus. O presidente falou reiteradamente sobre o desejo de
afrouxar as medidas de distanciamento e retomar a circulação de pessoas
para não prejudicar a economia, o que contraria a orientação da
Organização Mundial da Saúde seguida por diversos países. Nos
bastidores, comentava-se amplamente sobre o descontentamento de
Bolsonaro com o protagonismo do ministro à frente do combate à pandemia.
—
Esse problema é insignificante, nada tem significado que não seja uma
defesa intransigente da vida, do SUS e da ciência. Fiquem nos três
pilares que deles vocês conquistarão tudo, esses pilares alimentam a
verdade. A ciência é a luz, o iluminismo, apostem suas energias através
da ciência. Não tenham uma visão única, não pensem dentro da caixinha —
disse o ministro.
—
A vida de uma pessoa na cracolândia tem o mesmo significado quando ela
competir pelo leito de CTI com o homem mais rico desse país. Não pensem
que não estamos livres de um pico de ascensão dessa doença. O sistema de
saúde ainda não está preparado para uma marcha acelerada. Sigam
orientações das pessoas mais próximas que estão em contato com a saúde,
que são prefeitos, governadores e o próprio Ministério da Saúde.
Mandetta aconselhou os servidores a não terem "medo" e continuarem a
trabalhar com afinco, lembrando que a "ciência" é responsável inclusive
por mudanças de atitude:
— Prefiro ser essa metamorfose ambulante
do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Não tenham medo, não
falem um milímetro diferente do que vocês sabem fazer. Deixo esse
Ministério da Saúde com muita gratidão ao presidente por ter me nominado
e permitido que eu nominasse cada um de vocês. Vocês sabem que
ministros passam. O que fica é o trabalho do servidor do Ministério da
Saúde do Brasil — disse Mandetta.
O ex-ministro disse ainda
desejar uma transição "suave" nos trabalhos da pasta, e afirmou que fará
orações para a equipe que ficará:
— Que essa transição seja
suave, profícua, que tenhamos um bom resultado ao término disso tudo.
Ficarei, nas minhas orações, sempre pensando no que de melhor de energia
eu possa mandar para cada um de vocês — disse ele.
Ele disse que sua "última ordem" é que, caso sejam solicitados, que seus auxiliares ajudem a equipe que chegará.
— Se pedirem que vocês tenham que continuar, continuem. Façam o possível para ajudar. É a minha última ordem para vocês.
Conversa com Bolsonaro
Durante a coletiva, Mandetta afirmou
que teve uma conversa "amistosa" com o presidente e classificou
Bolsonaro como alguém "extremamente humanista".
—
Agradeço muito ao presidente. Foi uma conversa extremamente amistosa,
agradável. A maneira como posso entregar agora a condução do ministério é
melhor para que ele organize uma equipe que possa construir outro olhar
e que isso possa ser feito com base na ciência. Sei do peso da
responsabilidade dele. O presidente é extremamente humanista, ele pensa
também nesse momento todo pós-corona. Tenho certeza que Jesus Cristo vai
iluminá-lo e abençoá-lo para tomar as melhores decisões — disse,
agradecendo em seguida a atuação do Congresso Nacional.
Futuro
O
ex-ministro falou também sobre as mudanças que estão por vir no século
XXI e, sem dar detalhes, falou que haverá uma "militância
internacional" em saúde. De acordo com ele, o Brasil tem muito a ensinar
para os países do mundo em termos de promoção ao direito à saúde.
—
Eu também vou lutar no campo da saúde pública mundial, porque temos
muito o que dizer para o mundo pelo fato de um país em desenvolvimento
ter tido coragem de escrever na Constituição que saúde é um direito de
todos e um dever do estado brasileiro. O mundo deveria escrever essa
frase para ver se a gente tenha um pouco dignididade.
Antes de Mandetta aparecer na coletiva, uma servidora do ministério
distribuiu máscaras aos funcionários do Ministério da Saúde e afirmou
que "o ministro quer que todos coloquem máscaras". A galeria lateral do
auditório ficou repleta de servidores em apoio ao ex-ministro.
—
Lavoro, lavoro, lavoro. Vocês vão ficar com isso no ouvido de vocês por
muitos anos — disse o ex-ministro ao chegar para a entrevista.
Ex-deputado
federal, Mandetta assumiu o cargo de ministro da Saúde já no início do
mandato do presidente Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019. Médico
ortopedista, durante sua atuação parlamentar fez forte oposição ao
governo da presidente Dilma Rousseff e se posicionou contra políticas
emblemáticas do governo PT, como o Mais Médicos. O então deputado votou a
favor do impeachment da presidente.
oglobo
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