Líderes partidários da Câmara ficaram irritados
com a inclusão da proposta de reestruturação de carreira dos militares
dentro do pacote de reforma da Previdência, que foi entregue na Casa nesta quarta-feira (20).
Delegado Waldir (PSL-GO), que representa o partido do próprio
presidente Jair Bolsonaro, afirmou que a proposta vem em “momento
difícil” e que pode abrir precedente para a inclusão de outras
carreiras, diminuindo o impacto fiscal das propostas de mudança nas
regras da aposentadoria.
“Nós estaremos analisando, sabemos que vem uma reestruturação de
cargos que traz gastos públicos, a liderança vai ver se existe equidade
com as demais carreiras policiais e aí dialogar”, afirmou Waldir.
Ele
afirmou que é preciso analisar se “todos estão sendo penalizados, ou se
uma ou outra categoria está sendo beneficiada de forma diferente”.
A reestruturação das Forças Armadas representa uma despesa adicional
de R$ 86,85 bilhões em dez anos, reduzindo a economia com a mudança nas
regras de aposentadoria para R$ 10,45 bilhões no mesmo período.
A fala do parlamentar denota que o governo pode ter problemas à
vista: a bancada de seu partido é composta em grande parte por deputados
de carreiras da segurança pública, que podem pleitear mudanças em sua
estrutura de carreira.
Irritando seus próprios deputados, o governo torna mais difícil uma
articulação que já é vista como deficiente no Congresso. Hoje,
lideranças dizem que a base de Bolsonaro é composta apenas pelo PSL.
A análise é a mesma em partidos do centrão, que afirmam que uma
reestruturação de carreiras militares neste momento pode “abrir a
porteira” para que civis peçam a mesma coisa.
“A gente tem que ter cuidado porque a proposta não pode ser seletiva.
Temos que dar o mesmo tratamento a civis e militares sob pena de
contaminar o ambiente [de votação]. Fico preocupado quando se fala em
reestruturação de carreira, será que era o momento adequado para se
tratar disso?”, afirmou Elmar Nascimento (BA), líder do DEM.
Já o líder do Podemos ecoou a crítica que se ouve no Congresso sobre a
articulação do envio da proposta pelo Planalto. José Nelto (GO), disse
que o governo deveria ter chamado os parlamentares para apresentação do
texto.
Os líderes não receberam avisos sobre a proposta e afirmam que ainda
não tiveram como conhecer o mérito. “Estão cometendo o mesmo erro que na
Previdência geral”, diz Nelto.
Outros deputados também afirmaram que, se o governo pretende formar
base para aprovação, deve levar as propostas para conhecimento dos
deputados, porque eles não teriam como apoiar aquilo que não leram.
Já a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann
(PSL-SP), saiu em defesa da proposta e disse que a reestruturação da
carreira dos militares não pode ser tratada como questão sindical. Ela
afirmou que as Forças Armadas têm dado sua contribuição ao país no
passado recente.
Segundo ela, a “perda” dos militares vem desde o governo do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e chega a ultrapassar os 70%.
Em um discurso aos líderes partidários, Bolsonaro citou o projeto de lei apresentado ao Poder Legislativo se junta à medida provisória editada em 2001, que extinguiu benefícios como auxílio-moradia e promoção automática.
"Se os senhores buscarem a medida provisória e somarem com o que
chegou agora, podem ter certeza que é uma reforma previdenciária muito
mais profunda que essa do regime geral. Esse é o apelo que faço aos
senhores. Ao analisarem essa proposta, levem em conta a que está lá
atrás também ", pediu.
Brasília, Folha