Aberta após delação premiada, investigação aponta que Odebrecht
patrocinou empresa de filho do ex-presidente em troca de benefícios
durante o governo Dilma. Defesa classifica relatório da PF de opinativo.
A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira (20/03) o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu filho Luís Cláudio sob
suspeita de crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de influência
envolvendo a empresa Touchdown, de marketing esportivo.
Para o
indiciamento, revelado pela TV Globo, a PF investigou pagamentos que
somaram mais de R$ 10 milhões feitos por patrocinadores à Touchdown,
pertencente ao filho de Lula e com capital social de apenas R$1 mil –
apontado como incompatível com seus ganhos. A força-tarefa da Lava Jato
em São Paulo está analisando o caso.
O inquérito foi aberto após
delação premiada de Alexandrino Alencar, ex-diretor da Odebrecht e que
seria pessoa de contato de Lula na construtora. Alencar afirmou que, em
troca de benefícios oferecidos por Lula durante o governo Dilma
Rousseff, a Odebrecht deveria financiar projetos de Luís Cláudio.
De
acordo com o ex-diretor, a empreiteira pagou R$ 2 milhões a uma empresa
chamada Concept para que esta prestasse serviços de consultoria à
Touchdown. Com sua empresa, o filho de Lula pretendia criar uma liga
profissional de futebol americano.
Além dos pagamentos
milionários de patrocinadores efetuados à empresa ao longo de anos, a PF
apontou que os serviços prestados pela Concept estavam cerca de 600%
acima do valor de mercado. O diretor da Concept afirmou em depoimento
que a consultoria oferecida à Touchdown custou de R$ 300 mil a R$400
mil.
Em relatório, a PF afirma ainda que uma suposta empresa
laranja teria sido usada pelo filho de Lula para movimentar dinheiro
ilícito. Somente em 2013, a Touchdown teria pagado R$ 846 mil a uma
empresa de festas com capital social de apenas R$ 1.
Em nota, a
defesa de Lula afirma que o relatório da PF é um "mero documento
opinativo, com enorme fragilidade jurídica e distanciamento da realidade
dos fatos, que dá sequencia ao lawfare praticado contra Lula e seus familiares". O termo lawfare é usado para descrever o uso de leis como arma contra um inimigo.
"Lula
jamais solicitou ou recebeu, para si ou para terceiros, qualquer valor
da Odebrecht ou de outra empresa a pretexto de influir em ato da
ex-presidente Dilma Rousseff ou de qualquer outro agente público", diz a
nota. "Tampouco teve qualquer atuação nas atividades da Touchdown,
empresa de titularidade de seu filho Luís Cláudio que organizava um
campeonato nacional de futebol americano."
De acordo com a
defesa, o filho do ex-presidente apresentou o contrato firmado entre a
Concept e a Touchdown e mostrou ter feito todos os pagamentos pelos
serviços prestados, comprovando "serem mentirosas as afirmações de
delatores da Odebrecht". Os advogados afirmam que Lula e o filho não
praticaram qualquer ato ilícito.
Lula está preso desde 7 de abril
de 2018 em Curitiba. Ele foi condenado em segunda instância, em janeiro
do ano passado, a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e
lavagem de dinheiro no processo que envolve um triplex no Guarujá. O
ex-presidente nega as acusações.
No início de fevereiro, Lula foi novamente condenado,
em primeira instância, por corrupção e lavagem de dinheiro, desta vez
no processo referente a reformas realizadas num sítio em Atibaia, no
interior de São Paulo. Ele ainda é réu em outras sete ações penais. Os
advogados do petista alegam que o ex-presidente é vítima de perseguição
política. DW
LPF/ots