O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) vai
iniciar em 2020 a aplicação digital do Enem. A proposta, que será
progressiva e tem previsão atingir a totalidade das provas em 2026,
começará como um modelo-piloto com 50 mil participantes de 15 capitais.
Serão contempladas na primeira fase Belo Horizonte, Belém, Brasília,
Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, João Pessoa,
Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
Nessas cidades, candidatos poderão optar, no ato da inscrição, pela
prova tradicional ou pela digital.
O governo pretende oferecer várias datas para a realização do exame
feito pelo computador, mediante o agendamento prévio do candidato. A
prova em papel continuará a ser aplicada em dois domingos.
Em 2020, elas
acontecerão nos dias 11 e 18 de outubro. Os resultados dos dois modelos
de provas serão divulgados em conjunto.
No primeiro ano de aplicação de provas digitais, ainda haverá um terceiro exame, chamado de reaplicação.
Ele será destinado a candidatos que foram prejudicados por algum
problema de infraestrutura ou de logística durante a prova com uso do
computador. Nesse caso, a reaplicação será feita no modelo em papel.
Até 2025 haverá em todos os anos a opção pela prova impressa. O
número de aplicações dos testes digitais deve aumentar gradualmente.
Para 2021, por exemplo, são previstas pelo menos quatro datas para o
exame.
A mudança de modelo é significativa para um país com exclusão
digital. Ela havia sido prevista por outras gestões, mas nunca avançou.
O presidente do Inep, Alexandre Lopes, disse à reportagem acreditar que a mudança vai ajudar a induzir o processo de inclusão.
– Quando coloca o Enem digital em 2026, cria essa pressão positiva
com relação ao poder público municipal, estadual e federal. Você
[governante] tem que providenciar a seus alunos os meios para que ele
possa concorrer no Enem digital daqui seis, sete anos. Essa preocupação
vai chegar na redes, mas também na própria sociedade para que as pessoas
corram atrás – diz.
Para Lopes, o novo formato reduzirá desigualdades de oportunidades ao
permitir que alunos de locais mais distantes façam mais de uma vez a
prova sem necessidade de longos deslocamentos.
O entendimento dentro do Ministério da Educação é que, no meio digital, há também a possibilidade de uso de questões em outros formatos, com vídeos e até games.
Outra justificativa do governo para a mudança do modelo de aplicação
do exame é a economia com a impressão –mais de 10,2 milhões de provas
serão impressas para a edição de 2019, com custos que ultrapassam os R$ 5
milhões.
Mas, além do desafio da exclusão digital, o maior entrave para ter um
Enem aplicado em mais de uma data sempre foi o reduzido número de
questões disponíveis para dar conta de várias edições.
Desde 2009, o
exame passou a ser elaborado com base na TRI (Teoria de Resposta ao
Item), modelo que permite a formulação de provas com perguntas
diferentes mas dificuldade similar.
Sem garantir o mesmo grau de dificuldade, é impossível permitir que
pessoas façam provas diferentes, em datas diversas, e continuem a
disputar uma vaga em uma universidade em grau de igualdade.
Para chegar a isso, os itens do Enem precisam passar por um pré-teste
–um conjunto de pessoas responde às questões antes de elas serem usadas
na prova.
É com o resultado dessa avaliação preliminar que os técnicos do Inep
conseguem medir vários atributos do item, como grau de dificuldade e
chance de acerto no chute. Dessa forma, elaborar questões para o Enem é
um processo complexo, razoavelmente demorado e que envolve custos.
O presidente do Inep diz que o órgão já está em um “processo
exponencial de criação de itens”, apesar de não revelar a quantidade dos
que foram produzidos até agora. Também não há informações sobre o
tamanho atual do Banco de Itens, dados que também eram considerados
reservados em gestões passadas.
A escassez de questões já provocou uma crise no Enem. Na edição de
2011, o exame trouxe um conjunto de 14 perguntas idênticas às exigidas
em um simulado de uma escola de Fortaleza.
escobriu-se que elas haviam sido roubadas do pré-teste realizado na escola no fim do ano anterior.
A repetição de tantas questões no Enem de um mesmo pré-teste revelou a precariedade do banco até aquele momento.
*Folhapress