MOSCOU — O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou nesta terça-feira que o país registrou a primeira vacina
do mundo contra o novo coronavírus, desenvolvida pelo Instituto
Gamaleya de Moscou, após menos de dois meses de testes em humanos. Ela
foi batizada de "Sputnik V", em referência ao satélite soviético lançado
em 1957 na órbita da Terra. O ministro da Saúde da Rússia, Mikhail
Murashko, afirmou que o teste imunológico mostrou eficácia e segurança.
Na semana passada a Organização Mundial de Saúde (OMS),pediu respeito às diretrizes estabelecidas para que uma vacina fosse criada com segurança.
O temor da OMS, de cientistas e autoridades internacionais é de que, na
corrida política pelo pioneirismo da criação do imunizante, etapas que
garantam eficácia e segurança sejam negligenciadas. A China já havia
aprovado outra vacina, desenvolvida pela CanSino Biologics, mas para uso
restrito as Forças Armadas do país.
— Esta manhã, pela primeira
vez no mundo, uma vacina contra o novo coronavírus foi registrada —
disse Putin durante uma videoconferência com integrantes do governo
exibida pela televisão. — Sei que é bastante eficaz, que proporciona
imunidade duradoura — acrescentou.
O presidente ainda informou que uma de suas filhas foi vacinada contra a Covid-19.
—
Uma das minhas filhas tomou esta vacina. Acho que ela participou nos
experimentos — disse Putin, segundo a agência Interfax, antes de
acrescentar que ela teve um pouco de febre e "nada mais".
Segundo Kirill Dmitriev, presidente do fundo soberano que financiou
as pesquisas, mais de 1 bilhão de doses ja foram encomendadas por 20
países estrangeiros, sem detalhá-los. O início da produção deve ocorrer
em setembro, ainda de acordo com Dmitriev.
A vacina será
distribuída em 1º de janeiro de 2021, informou o registro nacional de
medicamentos do ministério da Saúde, consultado pelas agências de
notícias russas. Murashko, no entanto, já havia anunciado uma campanha
de vacinação em massa para outubro.
A fórmula desenvolvida pelo
instituto Gamaleia usa duas cepas de adenovírus, usualmente responsáveis
por gripes, e recebem o RNA do novo coronavírus para gerar uma resposta
imune. A técnica é parecida, por exemplo, com o modelo da vacina
candidata da Universidade de Oxford (Reino Unido) feita em parceria com a
farmacêutica AstraZeneca.
Nas semanas prévias ao anúncio,
cientistas estrangeiros expressaram preocupação com a rapidez da criação
de uma vacina deste tipo, enquanto a OMS pediu que a Rússia seguisse
"todos os estágios" necessários para desenvolver uma vacina segura.
O
temor das autoridades internacionais é de que a Rússia, com objetivos
políticos de ser a pioneira na criação de uma vacina, não siga todas as
fases de segurança que envolvem a criação do imunizante. Com o anúncio,
feito apesar do aviso da OMS, Putin praticamente reivindica a vitória na
corrida global por uma vacina contra a Covid-19.
A
OMS nunca listou as vacinas candidatas da Rússia como lideranças da
disputa por um imunizante entre as mais de 160 desenvolvidas ao redor do
mundo. O porta-voz da entidade Tariq Jasarevic afirmou a jornalistas
nesta terça-feira que o braço das Nações Unidas para a Saúde está
discutindo os procedimentos com autoridades russas, mas ressaltou que,
antes de receber qualquer selo de aprovação, a vacina exige uma revisão
"rigorosa" dos dados sobre segurança e eficácia obtidos por meio de
ensaios clínicos.
Os governos dos Estados Unidos, Canadá e Reino
Unido já acusaram anteriormente a Rússia de promover ataques hackers com
o objetivo de roubar informações sobre o desenvolvimento de vacinas.
Autoridades russas negam as acusações e afirmam que o modelo do
imunizante é baseado em um projeto desenvolvido com o ebola há anos e
defendem o legado do país e da antiga União Soviética nas pesquisas
ligadas à imunologia.
OGlobo