BRASÍLIA – O aumento de imposto sobre cilindros de oxigênio
às vésperas do colapso no sistema de saúde do Amazonas por conta do
aumento de casos e mortes de Covid-19 partiu do Ministério da Saúde. A
informação consta de documentos internos obtidos por meio da Lei de
Acesso a Informação (LAI) pela agência de dados Fiquem Sabendo, aos
quais O GLOBO teve acesso.
Foi o Ministério da Saúde
que excluiu os cilindros da lista de produtos que deveriam continuar a
ter alíquota zero de importação. Na quinta-feira, o governo admitiu que
um dos principais gargalos para atender hospitais do interior e da
capital é justamente a falta de cilindros de oxigênio.
Os
documentos mostram, também, que, ao mesmo tempo em que tirou os
cilindros do rol de beneficiados com a isenção, o Ministério da Saúde
pediu a manutenção do benefício para a importação medicamentos
comprovadamente sem eficácia contra a Covid-19, como a cloroquina, e
outros sem eficácia comprovada, como a ivermectina.
O aumento da alíquota de importação sobre os cilindros de oxigênio
aconteceu no dia 24 de dezembro por meio de uma resolução do Comitê
Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Camex), vinculado ao
Ministério da Economia.
Em abril de 2020, em meio à corrida pela compra de medicamentos e insumos para o tratamento de pacientes com a Covid-19,
o governo havia reduzido a zero a alíquota de importação de uma série
de produtos voltados ao combate e tratamento da Covid-19, entre eles os
cilindros de oxigênio. A medida tinha como objetivo facilitar a entrada
de insumos necessários ao tratamento dos pacientes com a doença. A
redução foi prorrogada ao longo de 2020 e tinha validade até 31 de
dezembro do ano passado.
Em
dezembro, o Ministério da Saúde pediu a prorrogação das isenções ao
Ministério da Economia. Este, por sua vez, pediu que a pasta fizesse uma
revisão da lista de produtos que deveriam ser contemplados com a tarifa
zero para importação. O Ministério da Saúde, então, enviou ofício à
equipe econômica propondo uma lista alternativa com uma relação de
produtos que, na avaliação da pasta, deveriam continuar a ter sua
alíquota zerada. Nessa lista, o ministério excluiu os reservatórios para
gases medicinais, termo técnico para os cilindros de oxigênio.
A área econômica acatou a sugestão da Saúde e revogou a isenção dada
aos cilindros de oxigênio e a outros produtos não relacionados pela
pasta. Na prática, a medida encareceu a importação dos cilindros.
A
revogação continuou valendo até a primeira quinzena de janeiro, quando,
diante da crise de abastecimento de oxigênio hospitalar em Manaus, o
governo, pressionado, recuou e voltou a reduzir a tarifa dos cilindros.
Nas
últimas semanas, integrantes do Ministério da Saúde relataram que há
falta de cilindros no país e que isso pode causar desabastecimento de
oxigênio em hospitais, especialmente no interior do país. A afirmação
foi feita pelo diretor de logística do Ministério da Saúde, general
Ridauto Fernandes, em audiência no Senado, no dia 18 de março.
Nessa
quinta-feira, foi a vez de o secretário de Atenção Especializada à
Saúde da pasta, coronel Luiz Otávio Duarte, admitir que a falta de
cilindros é o principal “gargalo” enfrentado pelo Ministério da Saúde no
momento, principalmente para atender unidades de saúde no interior e
pequenos hospitais nas capitais.
Redução para cloroquina
No
mesmo ofício em que excluiu os cilindros de oxigênio da lista de
produtos que deveriam continuar com alíquota zero de importação, o
Ministério da Saúde incluiu medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, como a invermectina, e outros comprovadamente ineficazes, como cloroquina e hidroxicloroquina.