O caso chegou ao Supremo em um recurso do Ministério Público do Rio 
Grande do Sul contra uma decisão do Tribunal de Justiça gaúcho que 
autorizou a prática em relação a religiões de matriz africana, desde que
 sem excessos e crueldade. 
 O julgamento do caso começou em agosto do ano passado. O relator, 
ministro Marco Aurélio Mello votou a favor do sacrifício dos animais nos
 rituais de todas as religiões, não apenas as de matriz africana. Todos 
os ministros seguiram o mesmo entendimento. 
 Na ocasião, entretanto, Marco Aurélio condicionou o abate ao consumo da
 carne do animal, enquanto os demais não. O ministro Alexandre de Moraes
 pediu vista na oportunidade e o julgamento foi retomado nesta 
quinta-feira. 
Voto-vista
 Em seu voto, Moraes disse que a questão foi colocada de maneira 
“preconceituosa” pelo Ministério Público estadual, autor da ação, e 
pelos amigos da Corte, instituições que participaram das discussões no 
Supremo. 
 Moraes afirmou que houve confusão de rituais religiosos de sacrifício 
com práticas de magia negra, nos quais os animais seriam maltratados. 
 “O ritual não pratica crueldade. Não pratica maus tratos. Várias fotos, argumentos citados por alguns amici curie
 (amigos da Corte), com fotos de animais mortos e jogados em estradas e 
viadutos, não têm nenhuma relação com o Candomblé e demais religiões de 
matriz africana. Houve uma confusão, comparando eventos que se denomina 
popularmente de magia negra com religiões tradicionais no Brasil de 
matriz africana”, afirmou o ministro. 
 De acordo com Moraes, essa interpretação “preconceituosa” da prática 
estava levando à interdição de terreiros de Candomblé por autoridades 
administrativas e sanitárias. O ministro afirmou ainda que impedir a 
prática seria “manifestar claramente a interferência na liberdade 
religiosa". 
 "A oferenda dos alimentos, inclusive com a sacralização dos animais, 
faz parte indispensável da ritualística das religiões de matriz 
africana”, afirmou Moraes. 
 O ministro também votou para estender a permissão a rituais de todas as
 religiões, mas não condicionou a prática ao consumo da carne do animal.
 Os ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, 
Luiz Fux, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e o presidente Dias Toffoli também
 votaram para autorizar a prática e reconhecer o direito de todas as 
religiões em sacrificar animais em cultos. Celso de Mello não estava 
presente à sessão. 
 Para o ministro Luís Roberto Barroso, há desconhecimento sobre como são
 conduzidos os rituais nas religiões de matriz africana. 
 “Não se trata de sacrifício ou de sacralização para fins de 
entretenimento, mas sim para fins exercício de um direito fundamental 
que é a liberdade religiosa. Não existe tratamento cruel desses animais.
 Pelo contrário. A sacralização deve ser conduzida sem o sofrimento 
inútil do animal”, disse Barroso. 
 “Me parece evidente que quando se trata do sacrifício de animais nesses
 cultos afros isso faz parte da liturgia e está constitucionalmente 
protegido”, afirmou Lewandowski. 
 A decisão foi tomada em um recurso com repercussão geral e deverá ser 
aplicada por todos os tribunais e juízes do país em casos semelhantes. 
G1
 






 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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