O presidente Jair Bolsonaro
(sem partido) afirmou que o Brasil "não tem forças armadas nucleares
para poder dar opinião tranquilamente sem sofrer retaliações" a respeito
do ataque dos Estados Unidos ao Iraque. A declaração foi dada na tarde de hoje em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, da TV Band.
"Tenho
que tomar cuidado com as palavras. Eu, como chefe de estado, o que
porventura falar para você, Datena, pode até ser manchete no dia
seguinte. Nós queremos paz, mas uma velha máxima no meio militar diz que
quem quer paz tem que se preparar para a guerra", comentou.
Bolsonaro afirmou que o Brasil "abriu mão" de explorar a questão
nuclear e repetiu, ao longo da entrevista, que manterá a cautela ao
tratar do assunto.
"A nossa linha é pacífica porque, afinal de
contas, não temos forças armadas nucleares para poder dar opinião
tranquilamente sem sofrer retaliações", disse.
Sem responder
diretamente se já tratou sobre a questão com o presidente dos EUA,
Donald Trump, a quem Datena chamou de "amigo particular" do presidente
brasileiro, Bolsonaro adiantou que o país é "favorável a qualquer medida
que combata o terrorismo no mundo", mas com participação "apenas
protocolar" — e não ativa.
"Não adianta ter um monte de diplomata
do Itamaraty bom de saliva se quando acaba a saliva entra a pólvora. E o
Brasil, para se inserir nesse mundo de falar mais em igualdade com
outros países, tem que evoluir ainda. A gente não vai tirar proveito de
uma possível guerra", declarou.
O presidente também adiantou que terá uma reunião na próxima segunda-feira, dia 6 de janeiro, para tratar sobre uma possível alta no preço do petróleo.
Como foi o ataque
O ataque coordenado pelos
EUA contra um aeroporto em Bagdá, no Iraque, matou Qasem Soleimani, o
chefe da Força Revolucionária da Guarda Quds do Irã, considerado um dos
homens mais importantes do país. Além dele, ao menos outras sete pessoas
morreram. Entre elas estava Abu Mahdi al-Muhandis, comandante de
milícia do Iraque, apoiada pelo Irã. A milícia da qual ele fazia parte
também atribuiu a morte aos EUA.
Naim Qassem, segundo na linha de comando do Hezbollah no Líbano, também seria uma das vítimas.
A
Guarda Quds é uma força de elite do exército iraniano e teria sido
responsável pela invasão da Embaixada dos EUA, em Bagdá, no início desta
semana.
Pentágono diz que ataque foi ordenado por Trump
O
Pentágono confirmou que o ataque aconteceu "sob ordens do presidente"
Donald Trump. "Os militares dos EUA tomaram medidas defensivas decisivas
para proteger o pessoal dos EUA no exterior, matando Qasem Soleimani",
afirmou em nota.
"Este ataque teve como objetivo impedir futuros
planos de ataque iranianos. Os Estados Unidos continuarão a tomar todas
as medidas necessárias para proteger nosso povo e nossos interesses,
onde quer que estejam ao redor do mundo", concluiu.
De acordo com o
Pentágono, Soleimani "orquestrou" ataques em bases de coalizão no
Iraque ao longo dos últimos meses e aprovou os "ataques" na embaixada
dos EUA em Bagdá, ocorridos no início desta semana.
Horas após a
confirmação da morte de Soleimani, a embaixada dos Estados Unidos em
Bagdá, que na terça-feira foi alvo de um ataque por uma multidão
pró-Irã, recomendou a seus cidadãos que deixem o Iraque "imediatamente".
Aiatolá do Irã fala em vingança e premiê, em guerra duradoura
O
guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, afirmou que vai "vingar" a
morte de Soleimani e decretou três dias de luto nacional no país.
"O
martírio é a recompensa por seu trabalho incansável durante todos estes
anos (...) Se Deus quiser, sua obra e seu caminho não vão parar aqui e
uma vingança implacável espera os criminosos que encheram as mãos com
seu sangue e a de outros mártires", afirmou Khamenei em sua conta no
Twitter em farsi.
Khameni nomeou o vice de Qasem Soleimani, o
general Esmail Ghaani, como novo chefe das Forças Quds. O programa da
força "permanecerá inalterado em relação ao período de seu antecessor",
afirmou o aiatolá.
O primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdel
Mahdi, afirmou nesta sexta-feira que o ataque vai "desencadear uma
guerra devastadora no Iraque". "O assassinato de um comandante militar
iraquiano que ocupava um posto oficial é uma agressão contra o Iraque,
seu Estado, seu governo e seu povo", afirmou.
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