Ao criticar medidas de isolamento social por causa do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro usou dados errados ao se referir a um hospital localizado no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira, 2, em conversa com apoiadores, no Palácio da Alvorada.
Após
dizer que não conhecia qualquer hospital que estivesse lotado, "muito
pelo contrário", Bolsonaro disse que, "se não se enganasse", o Hospital
Municipal Ronaldo Gazolla, que fica na zona norte do Rio, tinha só 12
leitos ocupados de 200 disponíveis. "Não é isso tudo que estão
pintando", disse o presidente, sem mencionar de onde tirou o número.
Na
verdade, o hospital opera atualmente com uma capacidade de 128 leitos e
56 estão ocupados com pacientes com suspeita de coronavírus. Vinte e um
estavam na UTI, segundo dados passados pela secretaria municipal de
Saúde do Rio, nesta quinta-feira, 2, mesma data da fala de Bolsonaro.
O
hospital funciona desde o dia 23 de março só com atendimentos para
pacientes com coronavírus. Na última quarta-feira, 1, um homem de 37
anos morreu no local, com suspeita da doença.
Segundo
a assessoria da secretaria, todos os pacientes de outros serviços foram
transferidos para outras unidades do município e o hospital espera
chegar a uma capacidade de 381 leitos, ainda sem data para a conclusão.
Recentemente,
a unidade foi alvo de uma fake news que disseminou rápido nas redes
sociais e em mensagens de whatsapps. Nela, um homem dizia dados falsos
da unidade, similares aos passados por Bolsonaro.
No áudio, o
homem que se dizia "chefe de rotina" do Ronaldo Gazolla defendia o
presidente e suas medidas contra o isolamento. Também citava que a
unidade tinha apenas quatro pacientes no CTI e oito no setor de
enfermaria, ou seja, doze internados no total.
Em nota, a
secretaria municipal de Saúde afirmou que não existe o cargo de "chefe
de rotina" no hospital, que desconhece a autoria do áudio e que não é de
nenhum dos chefes de serviço do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla.
A
secretaria também reforçou que "a opinião individual de algum
profissional não reflete a posição da prefeitura e da pasta". "A
orientação permanece a mesma: todos, que podem, devem ficar em casa para
evitar o crescimento acelerado da transmissão do vírus na cidade,
conforme decreto publicado pelo prefeito Marcelo Crivella".
Os
dados falsos sobre o hospital passados por Bolsonaro foram usados nesta
quinta por uma repórter, durante a coletiva com o ministro da Saúde,
Luiz Henrique Mandetta.
Depois de ouvir os dados mencionados na pergunta,
Mandetta disse que "se os hospitais estão vazios como diz o presidente,
é porque as medidas de isolamento social estão dando certo e conseguindo reduzir a velocidade de transmissão do vírus".
"Acho
que o presidente está constatando uma coisa muito boa, que nós estamos
conseguindo evitar que eles estejam superlotados", disse Mandetta. "Fico
muito feliz de o presidente estar constatando que as medidas estão
conseguindo segurar uma espiral de casos", declarou.
Um
funcionário que trabalha na unidade, ouvido pela reportagem, afirmou
que, como ainda estamos no início da curva de doentes, quando estivermos
no topo, a unidade provavelmente estará lotada.
Procurado
desde quinta-feira, o Planalto não respondeu de onde Bolsonaro tirou a
informação e se ela foi confirmada com a secretaria de saúde do Rio. Uol