Liderança
A ‘Jesus a Verdade que Marca’ é comandada pelo
suposto pastor Cícero Vicente de Araújo, que responde a ação civil
pública na Justiça do Trabalho e a ação penal na Justiça Federal pelos
mesmos crimes relatados nesta operação.
Araújo está com mandado de prisão preventiva na
operação desta terça, mas não foi localizado em casa. A defesa do líder
religioso afirmou que ele será apresentado nos próximos dias.
O movimento religioso que possui cerca de 15 mil
fiéis é investigado pela PF desde 2010, após quatro ex-integrantes terem
relatado ao Ministério do Trabalho que passaram anos trabalhando sem
receber salários ou qualquer outro ganho financeiro.
A ação de hoje é a terceira fase da operação,
deflagrada pela primeira vez em 2013 com o nome “Operação Canaã”, em
referência à terra prometida relatada na Bíblia.
Em 2015, “De volta para Canaã” representou a segunda
fase da operação, que prendeu 5 pessoas temporariamente, entre elas o
pastor Araújo. Na época, 15 pessoas foram encontradas em situação de
trabalho análogo à escravidão em propriedades de Minas, Bahia e São
Paulo.
Treze presos
Nesta terça, além
de Araújo, havia mandados de prisão para 21 pessoas, mas apenas 13 foram
encontradas, segundo informou a PF em Varginha (MG), onde as
investigações estão concentradas.
Foram cumpridos ainda 42 mandados judiciais de busca
e apreensão. Participam da operação 220 policiais federais e 55
auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego de Minas Gerais,
São Paulo e Bahia. Cerca de mil pessoas, a maioria de Minas, foram
resgatadas em situação de trabalho análogo ao escravo.
A investigação aponta que os líderes da comunidade
religiosa aliciavam pessoas em uma igreja em São Paulo, “convencendo-as a
doarem todos os seus bens para as associações controladas pela
organização criminosa”.
“Para tanto, teriam se utilizado de ardis e doutrina
psicológica, sob o argumento de convivência em comunidades, onde todos
os bens móveis e imóveis seriam compartilhados”, declarou a PF, em nota.
Depois de devidamente doutrinados, os fiéis, segundo
a PF, eram levados para zonas rurais e urbanas em Minas Gerais (nas
cidades de Contagem, Betim, Andrelândia, Minduri, Madre de Deus, São
Vicente de Minas, Pouso Alegre e Poços de Caldas), na Bahia (Ibotirama,
Luís Eduardo Magalhães, Wanderley e Barra) e em São Paulo (capital).
Exploração
Nessas cidades, os
fiéis (cerca de 800) eram “submetidos a extensas jornadas de trabalho,
sem nenhuma remuneração”, diz a PF, segundo a qual “eles trabalharam em
lavouras e em estabelecimentos comerciais dos mais variados tipos”.
“Por
meio da apropriação do patrimônio dos fiéis e do desempenho de
atividades comerciais sem o pagamento da mão-de-obra, a seita teria
acumulado vultoso patrimônio, contando com casas, fazendas e veículos de
luxo”, comunicou a PF.
Atualmente,
dizem as autoridades que investigam o caso, o movimento religioso
“estaria expandindo seus empreendimentos para o estado do Tocantins,
baseados na exploração ilegal”.
Advogado de defesa dos membros do movimento
religioso, Raimundo Oliveira Costa disse que ainda não sabe o motivo da
operação e que está indo nesta quarta-feira para Minas se inteirar do
caso. Adiantou, contudo, que seus clientes são inocentes.
“A
empresa não tem propriedades. As fazendas são todas terras arrendadas, e
tenho uma lista aqui de cerca de 500 pessoas que trabalham com carteira
assinada. Estamos rebatendo tudo na Justiça e vamos recuperar a honra
dessas pessoas”, disse ao CORREIO.
Listado
como único defensor dos líderes da ‘Jesus a Verdade que Marca’, Costa,
que está baseado em São Paulo, disse que as pessoas vivem em associação
agropecuária e têm direitos sobre dividendos relacionados às vendas da
produção agrícola.
“Eles possuem trabalhadores registrados, têm tudo no
livro. O que pode ocorrer é que há uma diferença muito grande entre o
dizer e o ser. Não sei o que levaram como prova nessa operação de hoje,
mas toda essa documentação nós temos e estamos apresentando à Justiça
Federal”, declarou.
Sobre os estabelecimentos comerciais, o advogado
disse que eles não têm relação com as fazendas onde os fiéis trabalham e
que “duvida que eles atuem sem assinar a carteira dos trabalhadores”.
O MTE informou que a operação ocorreu depois que a
Justiça Federal constatou que, mesmo depois da operação de 2015, ao
invés de frear as ações supostamente irregulares, os líderes as
ampliaram para outras cidades de Minas e Bahia.
“Eles se expandiram para cidades de Minas, como
Contagem, Unaí e São João Del Rei, e para o Oeste da Bahia. Voltamos
hoje para verificar as condições e houve uma confirmação dos fatos
verificados em 2013”, afirmou o auditor fiscal do MTE Marcelo Campos.
“Os trabalhadores estavam sendo ludibriados pelo
pastor Araújo e por pessoas ligadas a ele. Dão a impressão de que estão
construindo um patrimônio coletivo, mas não é nada disso. São pessoas
inescrupulosas que estão enganando as vítimas e se apoderando de
riquezas por elas produzidas por meio do seu trabalho”, finalizou
Campos. com informações o correio