O depoimento do ministro Sergio Moro na sede da Superintendência da Polícia Federal de
Curitiba acabou depois de 8 horas. O ex-ministro foi ouvido no sábado
(2) pela delegada Christiane Corrêa Machado, chefe do Setor de
Inquéritos Especiais do Supremo Tribunal Federal,
nas apurações sobre interferência política do presidente Jair Bolsonaro
no comando da corporação. A oitiva é tomada por ordem do ministro Celso
de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator do caso.
Nas imediações da sede da PF, manifestantes a favor do governo e
apoiadores do ex-ministro se aglomeram durante a tarde, mas começaram a
se dispersar no início da noite. Um entregador levou pizzas para a
superintendência no início da noite.
Moro acusou Bolsonaro de trocar o comando da PF para obter
informações e relatórios sigilosos de investigações ao anunciar
demissão, na semana passada. O Planalto se preocupa com o andamento de
inquéritos que apuram esquemas de divulgação de “fake news” e
financiamento de atos antidemocráticos realizados em abril, em Brasília.
“O presidente me disse que queria ter uma pessoa do contato pessoal
dele, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligência,
seja diretor, superintendente, e realmente não é o papel da Polícia
Federal prestar esse tipo de informação. As investigações têm de ser
preservadas. Imagina se na Lava Jato, um ministro ou então a presidente
Dilma ou o ex-presidente (Lula) ficassem ligando para o superintendente
em Curitiba para colher informações”, disse Moro, ao comentar as
pressões de Bolsonaro para a troca no comando da PF.
À revista Veja, o ex-ministro afirmou que apresentaria as provas “em
momento oportuno” – isso incluiu áudios e inúmeras trocas de mensagens
pessoais e de governo trocadas com o presidente pelo WhatsApp,
aplicativo favorito de Bolsonaro para delegar ordens a subordinados.
A PGR será representada pelos procuradores João Paulo Lordelo
Guimarães Tavares, Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita – este último
integrou o grupo de trabalho da Lava Jato dentro da Procuradoria-Geral
desde a gestão Raquel Dodge.
A investigação mira tanto no presidente quanto em Moro. O ex-ministro
é investigado por suposta denunciação caluniosa e crime contra a honra.
Ao autorizar na última segunda-feira, 27, a abertura do inquérito, em
uma decisão de 17 páginas, o decano observou que o presidente da
República “também é súdito das leis”, apesar de ocupar uma “posição
hegemônica” na estrutura política brasileira “ainda mais acentuada pela
expressividade das elevadas funções de Estado que exerce”.
Na véspera do depoimento de Moro, o presidente Jair Bolsonaro esteve
reunido por cerca de três horas com o novo ministro da Justiça, André
Mendonça, no Palácio da Alvorada.
Horas antes do depoimento de Moro, o presidente utilizou suas contas
nas redes sociais chamou o ex-ministro de “Judas” ao divulgar vídeo em
que uma pessoa não identificada diz ter ouvido vozes de outras pessoas
que falariam com Adélio no momento do crime – mesmo com dois inquéritos
da Polícia Federal, um deles já concluído, apontarem que o esfaqueador
agiu sozinho.
Durante a manhã, ao deixar o Palácio do Alvorada, o presidente não
quis falar com a imprensa, mas disse a apoiadores que não será alvo de
nenhum “golpe” em seu governo.”Ninguém vai fazer nada ao arrepio da
Constituição. Ninguém vai querer dar o golpe para cima de mim, não”,
disse Bolsonaro.
Exame
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