Quatro homens foram mortos e outras quatro pessoas, feridas, por um
atirador na Catedral Metropolitana de Campinas (SP) no início da tarde
desta terça-feira (11). O criminoso, identificado como Euler Fernando
Grandolpho, 49, entrou na igreja, sentou-se entre os fiéis e passou a
disparar contra os presentes logo após o final da missa.
Segundo a Polícia Militar, o atirador se matou após o ataque —ele
portava uma pistola 9 mm e mais um revólver calibre 38— as duas armas
estavam com as suas numerações raspadas. A motivação do ataque ainda é
desconhecida.
De acordo com o delegado José Henrique Ventura, de Campinas, o
atirador não tinha passagens pela polícia. Nos dois únicos boletins de
ocorrência registrados com seu nome ele aparece como vítima.
Os tiros foram disparados após a missa das 12h15, que é realizada no
mesmo horário todos os dias. A PM diz ter registrado um chamado pelo
190 às 13h25. Uma câmera do circuito interno da catedral mostra ação do atirador. No vídeo, obtido pela Folha, ele de repente se levanta e passa a disparar contra um grupo de pessoas sentadas logo atrás dele.
O atirador em seguida caminha para a frente da igreja e começa a
disparar contra os policiais que entraram na catedral para
rendê-lo. Euler ainda teve tempo de trocar o pente da pistola até ser
atingido no tórax. Caído, mas ainda consciente, disparou contra a
própria cabeça. Ele ainda tinha 28 balas em pentes na mochila.
A Polícia Civil apreendeu papeis, documentos, cartas e um notebook na
casa de Grandolpho. O delegado diz que a família o descreveu como uma
pessoa retraída e de pouca conversa. Os familiares disseram não ter
conhecimento de qualquer arma e que temiam que ele se suicidasse. O
atirador não trabalhava desde 2014 e morava com o pai desde a morte da
mãe.
"Entrei na igreja, a missa já havia terminado. Alguns minutos depois o
atirador entrou e se posicionou na frente de um casal e atirou", conta o
aposentado Pedro Rodrigues, 66. "Eu saí correndo, não houve gritaria
apenas correria. E ele continuou atirando. Eu tenho muita sorte de estar vivo."
A assistente-administrativo Luciana de Oliveira, 36, disse ter ouvido
um grande número de disparos, quando passava perto do templo. "Ouvimos
muitos tiros e as pessoas gritando, chorando. Vimos o homem baleado no
peito saindo de maca. Foi horrível".
O entorno da igreja, região comercial, estava cheio no momento do
crime, devido à proximidade do Natal. Por isso, o policiamento na área
também era reforçado, o que agilizou a chegada dos policiais ao local.
Moradora de rua, Artemis José de Oliveira, 40, conta que viu os
feridos saindo da igreja. "Ouvi os tiros e vi um senhor com sangue no
ombro saindo e uma senhora também baleada que caiu na porta. A polícia
saiu atirando na porta pra dentro da igreja. Teve troca de tiro",
afirma. "Pensei nos fiéis da igreja que sempre nos ajudam. Foi
horrível".
"A intenção era atirar. Ele já atirou 'fatalizando' as pessoas. Não
tinha nenhum motivo específico que não fosse a loucura dele", disse
o secretário municipal de Segurança de Campinas, Luiz Augusto Baggio.
A Catedral de Nossa Senhora da Conceição fica na principal área
comercial da cidade. Por meio de nota, a arquidiocese de Campinas
informou que a catedral está fechada para o atendimento às vítimas e
para as investigações da polícia. "Contamos com as orações de todos
neste momento de profunda dor", segundo trecho do comunicado.
O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), decretou luto oficial de três dias, a contar a partir desta terça-feira (11).
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) comentou o assunto nas redes
sociais. "Estamos acompanhando a apuração das autoridades sobre o crime
bárbaro cometido hoje na Catedral Metropolitana de Campinas, em São
Paulo. Nossos votos de solidariedade às vítimas dessa tragédia e aos
familiares", disse a nota.
Vítimas
Atingidos pelo atirador, José Eudes Gonzaga Ferreira,
68, Eupidio Alves Coutinho, 67, Sidnei Vitor Monteiro, 39,
e Cristofer Gonçalves dos Santos, 38, não resistiram aos ferimentos
e morreram no local. Outras quatro pessoas foram baleadas e
socorridas pelos bombeiros e pelos médicos do Samu.
Silvio Antônio Monteiro, 47, deixou a mãe Jandira Prado Monteiro, 62,
dona de casa, no ponto de ônibus e ela seguiu para o centro de Campinas
onde se encontraria com o filho Sidnei para irem ao dentista juntos.
Ambos combinaram de se encontrar na catedral. Mãe e filho moravam em
Hortolândia.
"Eu não consigo acreditar no que aconteceu. Hoje é meu aniversário e
olhem o presente que ganhei", disse. A mãe precisou operar a mão e a
clavícula. Passa bem mas não sabe que o filho morreu. "Dissemos a ela
que ele está bem cuidado. Eles eram muito próximos, não sei como vai
ser".
Sidnei era eletricista na Unicamp, casado e tinha uma enteada. Era o
caçula de três filhos de dona Jandira e seu Milton Candido Monteiro, 71,
que também trabalha na Unicamp.
O irmão soube da tragédia quando recebeu ligações do hospital no
celular, mas como estava trabalhando não conseguiu atender. Mais tarde
foi contatado de novo e levado para o hospital.
"Era o caçula querido. E uma mulher que só sai para ir à Igreja e ao
dentista acontecer uma coisa dessas? Meu Deus", diz ele, casado há 50
anos.
Silvio estava no trabalho quando, por volta das 14h30, recebeu
ligações do hospital contando que a mãe e o irmão foram vitimados. "Aí
veio o aperto", afirma. "Ela [mãe] fala dez vezes por hora no nome dele
[Sidnei]. A gente diz que está bem, não sabemos como contar. A família
está destruída."
José Eudes Gonzaga Ferreira, 68, estava na missa com a mulher, Maria
de Fátima. Ela tomou um tiro na coxa e passa bem. Ele morreu na hora.
"Eles são muito devotos, vivem na missa", conta o filho, Douglas
Ferreira, 38.
A família foi ao IML do cemitério dos Amarais para reconhecer o
corpo, mas deixou o local ao serem avisados pela polícia de que o
procedimento não era necessário.
O mesmo ocorreu com um filho e sobrinhos de Eupidio Coutinho, 67.
A empregada doméstica Edna Rodrigues, 58, soube do atentado quando
viu a notícia na TV, no trabalho. "Fiquei apavorada. Minha irmã não sai
da igreja", disse ela, sobre a irmã, Lourdes, 78. Recebeu ligações da
família dizendo que a irmã estaria morta e correu para o IML do
cemitério dos Amarais. "Eu vim para cá, outro foi para outro cemitério,
outro foi para o hospital. Ficamos desesperados", conta.
No IML, soube que a irmã estava no hospital, em bom estado de saúde,
que havia sido atingida de raspão e não precisaria ser operada.
"Graças a deus, que alívio. Mas não vou sair daqui. Quero ver a cara dele [atirador]. O que ele fez não se faz."
Dois feridos continuam internados. Jandira Prado Monteiro deve ter
alta nesta quarta. Heleno Severo Alves passou por cirurgia e não tem
previsão de alta. Os outros dois feridos já foram liberados. Informações www1.folha.uol.com.br