Comunidades terapêuticas com foco no tratamento de
dependentes químicos de todo o Brasil, mantidas em convênio com o
governo, seja em âmbito nacional, estadual ou municipal, podem ser
afetadas por um projeto de lei sugerido pelo presidente da Câmara dos
Deputados, Rodrigo Maia (DEM), que prevê a imposição de regras ao
funcionamento desses locais. Somente na Bahia, a medida afetaria no
mínimo 12 entidades e cerca de 1.200 beneficiados. A lista inclui a
Fundação Doutor Jesus, comandada pelo deputado federal Pastor Sargento
Isidório (Avante).
O texto do Projeto de Lei (PL) entregue na
última quinta-feira (7), proíbe "qualquer modalidade de internação"
neste tipo de estabelecimento e determina que o paciente só deve ser
internado "excepcionalmente" e sempre em unidades de saúde após
autorização de um médico. "É vedada a realização de qualquer modalidade
de internação nas comunidades terapêuticas acolhedoras", diz o projeto.
Apesar da utilização do termo "acolhimento", a maioria das
comunidades terapêuticas, na prática, adotam protocolos de internação
para tratamento de dependentes químicos. Durante o período em que as
pessoas estão sendo submetidas ao tratamento, elas costumam permanecer
nas dependências da entidade.
Segundo dados da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e
Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS), caso aprovado, o PL afetaria
além das 12 comunidades terapêuticas conveniadas com o governo do estado
por meio do Sistema Bahia Viva, as entidades conveniadas com a
Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad), e também a
Fundação Doutor Jesus. Ainda conforme a SJDHDS, esses locais "prestam
serviços de acolhimento residencial transitório que não são da rede de
atenção psicossocial de saúde".
As comunidades terapêuticas, oferecem normalmente tratamento
gratuito e algumas contam com verba do Poder Público para se manter. O
governo da Bahia destinou um total de R$ 11,2 milhões somente às
entidades beneficiadas pelo Sistema Bahia Viva, edital que selecionou
estabelecimentos para prestar serviços de recuperação, reabilitação
física, psicológica e reinserção social. Em nível nacional, o governo
financia cerca de 6,5 mil vagas nessas comunidades e o custo supera os
R$ 90 milhões, de acordo com dados do Ministério da Justiça e Segurança
Pública apurados pelo jornal O Globo.
Sobre a tramitação do PL na Câmara, o deputado federal Pastor
Sargento Isidório prometeu ser "contra até com a própria vida", e ainda
classificou a medida como "extermínio". O parlamentar exaltou o
trabalho realizado e a importância das comunidades terapêuticas para a
comunidade e a sociedade.
O responsável pela Fundação Doutor Jesus espera ainda que
Maia não leve a tramitação do texto adiante. "Não acredito que ele
[Rodrigo Maia] e nenhum homem de bem dessa nação faça isso", disse
Pastor Sargento Isidório. "Eu não sou maluco de permitir extermínio",
completou o parlamentar.
Representante legal da Comunidade Terapêutica Gente Livre
Maanaim, Maria de Fátima Rocha considera o texto "contraditório" e
também espera que o PL não seja levado adiante. "A gente vai conseguir
derrubar isso ai", disse ao defender os pontos positivos do tratamento
de dependência química gratuito. A Comunidade Maanaim, localizada em
Irecê, no centro norte da Bahia, é uma das entidades beneficiadas pelo
Sistema Bahia Viva.