Um projeto de lei apresentado no final do mês passado impediria a
demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), e dos
secretários de Saúde durante o estado de calamidade pública para
enfrentar a pandemia do novo coronavírus.
O autor da proposta, Joaquim Passarinho (PSD-PA), disse hoje ao UOL
que a demissão de Mandetta seria "grave neste momento". Auditores do
TCU, que ajudaram a escrever o texto do projeto, afirmam que "a
população fica sem rumo" se o ministro é demitido em meio à covid-19.
"Necessário se faz garantir, excepcionalmente, um mandato fixo ao
dirigente máximo responsável pela direção única do SUS em cada ente da
Federação a partir da publicação da Lei nº 13.979, de 2020, sob pena de
haver desarticulação do sistema em meio a uma pandemia", afirma o
deputado Joaquim Passarinho (PSD-PA) na justificativa do projeto.
O PLP 54/2020 foi apresentado em 26 de março, mas ainda não foi entregue a um relator na Câmara dos Deputados.
Passarinho contou que elaborou o projeto com a ajuda de auditores do
Tribunal de Contas da União (TCU) e de consultores legislativos do
Congresso. O objetivo geral era fixar regras mínimas para gastos sem
licitação durante o estado de calamidade. "Mesmo com boas intenções,
sempre aparecem os mal-intencionados", disse.
Por isso, ele também
incluiu a estabilidade temporária do ministro da Saúde, que lidera o
SUS (Sistema Único de Saúde) nacionalmente, e dos secretários, que o
comandam em cada estado.
Passarinho é contra uma possível demissão de
Mandetta, como a mencionada por Jair Bolsonaro (sem partido) em entrevista à rádio Jovem Pan na semana passada.
"Isso
é muito complicado, no meio do caminho. É grave porque você sai de um
ritmo de 30 dias de uma orientação e, dependendo do ministro que entrar -
não que não possa trocar —você pode mudar totalmente uma orientação.
Mudar a orientação é perder investimentos."
Maia não conhece detalhe do projeto
Passarinho afirmou que
conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre a
proposta, mas sem entrar na parte da estabilidade para o ministro e os
secretários. Ele não sabe se, com as declarações do presidente e os ataques a Mandetta em grupos bolsonaristas, a proposta deve andar mais rápido.
O
deputado disse que Maia lhe contou que vai reunir, em acordo com os
líderes partidários, uma pauta comum de várias propostas que tratam do
enfrentamento ao coronavírus e que foram produzidas por parlamentares.
Não há prazo para isso ser feito.
Projeto resolve problema político, dizem auditores
Uma das entidades que ajudaram a escrever o projeto de Passarinho defendeu a aprovação dela para preservar Mandetta.
"Diversas
instituições de imprensa divulgaram, hoje, que o presidente da
República pode demitir o ministro da Saúde em meio à crise do novo
coronavírus", destaca a Associação da Auditoria de Controle Externo do
Tribunal de Contas da União (Aud-TCU) em nota. O projeto poderia
resolver esse problema político.
"Os princípios norteadores do SUS
impõe adoção de medidas que garantam o funcionamento da rede
regionalizada e hierarquizada, assegurada a autonomia científica da
direção única, sem a qual a população fica sem rumo", continua a
Aud-TCU. uol