Uma das preocupações do ministro da Economia, Paulo Guedes, passados os ruídos com o anúncio do programa Pró-Brasil e com a demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro,
é política, afirmam técnicos da equipe econômica. Guedes tem
acompanhado com lupa os projetos no Congresso que aumentam os gastos
públicos e o apetite de partidos políticos por cargos, inclusive em
órgãos e estatais ligados ao Ministério da Economia. Isso ocorre após aproximação do governo com o Centrão (grupo político do Congresso que pode aceitar cargos para apoiar o governo).
Rumores sobre uma possível perda de prestígio de Guedes com o presidente Jair Bolsonaro
(sem partido) e de uma eventual saída do governo ganharam força com o
anúncio do programa Pró-Brasil, que previa investimentos públicos para
reanimar a economia. O programa foi anunciado sem que o Ministério da
Economia tivesse participado de nenhuma reunião e Guedes disse ser
contra a medida.
Para acalmar os ânimos, Bolsonaro reafirmou que Guedes é quem o orienta sobre todas as decisões econômicas. Além disso, o presidente escolheu José Levi para o cargo de advogado-geral da União.
Antes de se tornar ministro, Levi era subordinado do ministro da
Economia como procurador-geral da Fazenda Nacional. Os gestos foram
interpretados por políticos e técnicos da Economia como um sinal da
força de Guedes.
"O ministro está preocupado com os pedidos por
partidos políticos e com eventuais propostas que aumentam os gastos
públicos. Não podemos passar a mensagem errada para investidores. O
Brasil precisa se recuperar. Passada a pandemia, precisamos manter as
reformas", declarou um técnico da equipe econômica.
Preocupação com apetite por cargos
Guedes está preocupado com
os sinais políticos que têm chegado ao governo. Os partidos que compõem
o Centrão querem cargos na Esplanada dos Ministérios e em estatais para
dar apoio ao governo Bolsonaro.
A direção do Banco do Nordeste,
vice-presidências e diretorias da Caixa e até a recriação de alguns
ministérios são defendidas por alguns parlamentares, reservadamente.
Isso poderia levar a um aumento de gastos públicos e o fim da unidade
nas decisões do Ministério da Economia.
Deputados com ligações com igrejas também têm cobrado do governo uma solução para as dívidas tributárias das entidades religiosas com a Receita Federal. A Receita é contra a medida e Bolsonaro tem pressionado a equipe econômica por uma solução.
Alvo de parlamentares
Guedes
também tem sido alvo de críticas de alguns deputados. Um deles é o 1º
vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcos Pereira
(Republicanos-SP). Apontado como candidato à sucessão de Rodrigo Maia
(DEM-RJ) na Presidência da Câmara, Pereira tem mandado sinais ao
Ministério da Economia.
No primeiro deles, em 14 de abril, Pereira
criticou Guedes explicitamente. "Paulo Guedes assumiu o Ministério da
Economia dizendo que queria 'menos Brasília, mais Brasil'. Pois bem.
Agora que aprovamos o reforço nos caixas de estados e municípios, o
ministro quer vetar. Em qual Paulo Guedes devemos acreditar?", escreveu o
parlamentar no Twitter.
Guedes se posicionou contra o projeto aprovado pela Câmara que determinava que a União cobriria as perdas de arrecadação dos estados e municípios.
Em
artigo publicado na última segunda-feira (4) no site do partido,
Pereira voltou a criticar Guedes indiretamente. Ele afirmou que o país
precisa de uma política de reindustrialização e citou uma frase dita por
Guedes de que o Ministério da Indústria e Comércio (Mdic) se transformou em "trincheira da primeira guerra mundial" na defesa de protecionismos.
"Como
ex-ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços por dois anos, e
cuja pasta infelizmente foi incorporada ao Ministério da Economia
acusada de ser a "trincheira da Primeira Guerra Mundial", eu reafirmo: o
Brasil precisa, sim, de uma fortíssima política de reindustrialização. O
presidente da República, Jair Bolsonaro, como nacionalista que é,
deveria pensar seriamente na questão", afirmou Pereira.
Procurado
para comentar o assunto, o Ministério da Economia não se manifestou. O
deputado Marcos Pereira não respondeu às ligações e às mensagens
enviadas pela reportagem. uol