O cenário de incerteza alimentar que esvazia barrigas de dez milhões 
de famílias, especialmente piorado com a pandemia de coronavírus e 
elevados índices de desemprego, é a principal razão que levou 
representantes de centenas de famílias que integram o Movimento de Luta 
nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) a ocupar corredores e entradas de 
caixas no Carrefour à avenida do Contorno, na região Leste de Belo 
Horizonte, na tarde de terça-feira (22) – a manifestação que começou às 
16h, não tem horário para ser encerrada.
  O ato nomeado 
“Natal Sem Fome” alerta para as condições de precariedade e miséria em 
que se encontram milhões de famílias no Brasil, mas também aproveita a 
ocasião para relembrar a memória de João Alberto, homem negro 
assassinado em uma unidade do exato supermercado em Porto Alegre, e 
criticar o corte do auxílio emergencial pela presidência.
 
Após entrada no espaço do mercado no bairro Floresta, representantes 
de famílias que integram o movimento nacional e crianças separaram-se 
nos corredores do Carrefour. Parte da organização dialoga com 
funcionários e responsáveis pela loja e, até então, não há previsão para
 encerramento do ato.
  Estima-se, segundo Leonardo Péricles, 
ex-vice candidato à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e presidente 
nacional da Unidade Popular (UP), que cerca de 400 pessoas participem, à
 tarde de terça-feira, da manifestação. “Esta aqui é uma jornada de 
lutas nacional que, hoje, tem a fome no Brasil como centro da denúncia. 
Há 10,3 milhões de famílias que passam fome extrema no Brasil. Nós 
também pretendemos denunciar a carestia do conjunto da população 
trabalhadora, mais pobre, que a cada dia tem mais dificuldade para 
conseguir adquirir os produtos que necessita para alimentação básica”.
  O
 ato simbólico às vésperas do Natal relembra ações de combate à fome e à
 desigualdade alimentar que ganharam repercussão no Brasil em meados da 
década de 1990 com o sociólogo Hebert de Souza – o Betinho – e a Ação 
Cidadania. “Nesse Natal, essas famílias pretendem não passar fome. Essa é
 uma questão importante”, reforçou Leonardo Péricles.
  Ele 
detalhou também que o protesto feito nesta terça-feira endossa os 
clamores por justiça em relação ao assassinato de João Alberto Freitas, 
40, morto por espancamento cometido por seguranças de uma unidade do 
supermercado Carrefour, em Porto Alegre, em 19 de novembro – às vésperas
 do Dia da Consciência Negra. “É um ato que também denuncia o racismo. 
Não é à toa que acontece no Carrefour, porque lembra a memória do João 
Alberto, um trabalhador negro assassinado no Carrefour de Porto Alegre. 
Até hoje, ainda se pede por justiça. Então é parte da luta do movimento 
negro”.
  De acordo com ele, famílias reúnem-se também em ato como
 forma de se manifestarem contra o fim do auxílio emergencial. “Debaixo 
de toda essa crise econômica, desse aumento da fome e do desemprego no 
Brasil, o governo está cortando o auxílio emergencial. Então, a situação
 das famílias que já é difícil, tende a piorar”, conclui.
  Em 
nota encaminhada à reportagem na noite desta terça-feira, o Carrefour 
declarou que reconhece a manifestação como legítima e está dispostos a 
manter diálogo com representantes. “O Carrefour entende que a 
manifestação ocorrida é legítima e estamos à disposição para continuar 
em constante debate com a sociedade e com os movimentos sociais 
envolvidos. Reforçamos que a companhia segue apoiando dezenas de 
projetos sociais junto a entidades parceiras, conforme sua agenda 
estratégica de responsabilidade social”, redigiu.
 O Tempo