SÃO PAULO – Com a questão fiscal aumentando a tensão entre os
investidores aqui no Brasil, o dólar comercial fechou setembro com uma
alta de 2,46% ante o real, cotado a R$ 5,6150 na compra e R$ 5,6160 na
venda.
Além da crise do coronavírus, que afeta boa parte das
moedas emergentes, o real tem outros fatores que estão pesando em seu
desempenho. E um dos principais deles é o risco fiscal, elevado ainda
mais esta semana com a decepção do mercado com o programa Renda Cidadã.
Na
última semana, analistas já havia apontado esta preocupação diante das
dificuldades que o governo já enfrentava para realizar os ajustes
necessários na economia. O Bank of America, inclusive, disse estar mais cauteloso com o real e alertou para volatilidade no curto prazo.
Em entrevista para a Bloomberg, Sergio Zanini, sócio gestor da
Galapagos Capital, destacou que o mercado está na “torcida para que o
que foi anunciado na segunda [o Renda Cidadã] seja revertido em algum
momento”.
“O mercado não compra mais esse discurso do Executivo,
em que por um lado sempre defende o teto de gastos e a responsabilidade
fiscal, mas por outro sempre anuncia planos que vão na contramão”, disse
Breno Martins, trader de renda fixa da MAG Investimentos, também para a
Bloomberg.
Na segunda, o governo apresentou o novo programa
social e tem em sua proposta a ideia de usar o Fundeb e precatórios como
forma de financiamento, decisão que foi vista por muitos especialistas
como uma “pedalada fiscal”. Isso gerou muitas críticas à proposta e
agora o mercado fica de olho para ver o que o governo fará sobre isso.
Nesta quarta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que nunca foi proposta da equipe econômica romper teto
ou financiar programas de forma equivocada, em referência ao
direcionamento de recursos para o Renda Cidadã com a limitação ao
pagamento de precatórios.
Em coletiva de imprensa, Guedes afirmou
que seu time está estudando como fazer a fusão de 27 programas que já
existem como forma de consolidar um programa de transferência de renda
mais robusto, que represente uma aterrissagem após o fim do auxílio
emergencial neste ano. Ele frisou que, como se trata de uma despesa
permanente, terá que ser coberta por uma receita permanente.
Com
esta preocupação crescente nas últimas semanas, o real se consolidou
como a moeda com pior desempenho do mundo em 2020 até o momento, com o
dólar subindo 39,60% ante a divisa brasileira, segundo dados da
Refinitiv.
A performance é de longe a pior, já que contra a segunda pior divisa,
a lira turca, o dólar subiu 29,69%. Com isso, o real também aparece bem
atrás de moedas de países com grandes crises, como a Argentina, em que o
dólar teve valorização de 27,25% contra o peso.
Outras moedas que
veem o dólar registrar forte valorização no ano são o rublo da Rússia
(25,17%), o rand sul-africano (19,59%) e os pesos mexicano (16,77%) e
colombiano (16,44%).
A crise por conta do coronavírus tem pesado
bastante para o desempenho das moedas de emergentes, já que em momentos
de maior tensão os investidores globais tendem a procurar ativos mais
seguros, entre eles o dólar americano.
Tanto que contra algumas
divisas consideradas mais fortes, a moeda dos EUA registra queda neste
ano. É o caso do euro, com queda de 4,33% do dólar, do iene japonês
(-3,10%) e do franco suíço (-4,86%). Confira:
Moeda | País | Desempenho do dólar contra a moeda em 2020 |
Real | Brasil | +39,60% |
Lira | Turquia | +29,69% |
Peso | Argentina | +27,25% |
Rublo | Rússia | +25,17% |
Rand | África do Sul | +19,59% |
Peso | México | +16,77% |
Peso | Colômbia | +16,44% |
Sol | Peru | +8,78% |
Peso | Chile | +4,35% |
Libra | Reino Unido | +2,71% |
Yuan | China | -2,47% |
Iene | Japão | -3,10% |
Euro | Zona do euro | -4,33% |
Franco | Suíça | -4,86% |
Fonte: Refinitiv
Já
no acumulado de 12 meses, o dólar subiu 34,94% contra o real, em um
desempenho muito parecido com a Argentina, por exemplo, onde a moeda
americana teve alta de 32,26% no mesmo período.
Vale lembrar que
os nossos vizinhos passam por um momento bastante complicado, com
diversos calotes de suas dívidas e uma inflação que já supera 42% no
acumulado de 12 meses até agosto.
Confira o desempenho das principais moedas em 12 meses:
Moeda | País | Desempenho do dólar contra a moeda no acumulado de 12 meses |
Lira | Turquia | +34,81% |
Real | Brasil | +34,94% |
Peso | Argentina | +32,26% |
Rublo | Rússia | +18,88% |
Peso | México | +11,53% |
Peso | Colômbia | +9,50% |
Rand | África do Sul | +9,21% |
Peso | Chile | +7,67% |
Sol | Peru | +6,31% |
Iene | Japão | -2,12% |
Libra | Reino Unido | -4,74% |
Yuan | China | -5,01% |
Euro | Zona do euro | -6,74% |
Franco | Suíça | -7,29% |
Fonte: Refinitiv
Infomoney