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segunda-feira, 11 de março de 2019

Clovis Pinho: “Não concordo com o discurso de Jair Bolsonaro” | NOVO PROJETO DO PRETO NO BRANCO

Você pretende investir em carreira solo ou vai se dedicar só ao Preto no Branco?Que balanço você faz do Preto no Branco, já que você é o pioneiro do grupo?
Acho que o Alex Passos (idealizador do projeto) é o pioneiro do grupo, já que ele pensou em juntar os caras no projeto como um todo. Eu posso dizer que sou o remanescente, aquele que acreditou do começo ao fim, porque eu sou brasileiro mesmo e vou até o fim. Eu me apaixono por um projeto da forma como me apaixonei pelo Preto no Branco. Não deixo que nada me tire o foco. A cada dia a gente tem se entregado mais, desde compor, até se apresentar ou ir para uma agenda. A gente está fazendo o dever de casa para fazer da melhor maneira possível.

Como nasceu a canção Ninguém Explica Deus?
Eu nasci em uma igreja evangélica, mas tive uma crise espiritual muito forte e resolvi fazer umas perguntas para Deus. Às vezes, a gente se posiciona muito na relação de Deus como o Senhor e nós, os servos. Mas, muitas vezes a gente abre mão de ser filho e um filho que questiona o pai. Questionar, tentar descobrir uma forma de fazer com que seu cérebro funcione na intenção de dialogar. Não é pecado questionar e faz parte dos diálogos fazer essas perguntas. Eu comecei a me questionar sobre muita coisa na Bíblia, coisas que eu não entendia e que até hoje, confesso que não entendo, mas nossa fé faz com que a gente obedeça àquilo que não entendemos. Mas isso não quer dizer que eu não possa questionar. Enquanto eu sigo sem algumas respostas, vou dizendo que ninguém explica Deus. Essa música nasceu nesse momento em que eu precisava declarar isso. Ninguém explica Deus e eu não vou ficar aqui me martirizando. Eu vou caminhar por fé, certo de que Ele já me deu o melhor, que foi o Seu Filho. De resto, a gente precisa aprender a amar, se entregar e obedecer.

A música foi lançada em 2015, mas foi a mais tocada nas rádios no ano passado. Como é ver uma música ainda repercutindo e conseguir ultrapassar o campo da igreja e pegar o pessoal do secular?
É assustador o fenômeno que é a internet hoje. A gente faz parte de uma geração que está se renovando o tempo todo. Hoje está se ouvindo uma coisa e amanhã já não está mais. Passa muito rápido! Fazer uma música como Ninguém Explica Deus é uma honra muito grande, porque é um recado sobre uma fagulha da personalidade de Deus. A gente colheu um resultado maravilhoso. Somos uma banda que nasceu na internet e acredito que isso ajudou muito a viabilizar a mensagem. Fora a ajuda dos universitários que a gente teve, como, por exemplo, Luan Santana e Whindersson Nunes cantando a caminho do Prêmio Multishow. Imagina os fãs desses caras ouvindo, indo conferir a música e replicando. Sou filho de pescador, vindo de um lugar tão distante, tão improvável e a gente não imagina o que pode acontecer. Mas, Deus é maravilhoso e a gente está se surpreendendo todo dia e ao mesmo tempo agradecendo pela oportunidade de falar e ser ouvido.

Muito se especulou sobre o fim da banda com a mudança de gravadora e saída de integrante. Como você avalia essa fase do Preto no Branco?
Digamos que seja uma desfragmentação. A primeira imagem que vem na minha cabeça quando eu falo disso são os super-heróis da Marvel passando por aquele efeito muito doido, do final do filme, quando o Thanos estala os dedos e então um a um começa a se desfazer e virar areia. Só que o legado do herói na história da Marvel é dos caras vencendo o mal, então, alguma coisa vai acontecer para que eles vençam. Trazendo isso para nossa realidade artística, a gente entende que já é programado no coração para vencer as notícias ruins. Acredito que a gente se torna herói para muitos que nos têm como espelho, e está torcendo para que a gente vença as notícias ruins. Não estou falando sobre os haters, mas da galera que fica ali torcendo. É um desafio muito grande ter vivido isso, mas também é uma descoberta muito fantástica dentro daquilo que é o propósito de Deus para o Preto no Branco.

Neste novo projeto, o Preto no Branco agregou vários estilos. Como foi chegar nesse som ainda mais eclético?
A nossa meta tem sido não ter bandeira nem sobre pessoas nem sobre ritmo. O que a gente pode fazer com as pessoas e com as manifestações que a arte tem é incalculável. Se nós queremos dar o nosso recado para o mundo, temos que ser os primeiros a nos desarmar. Os primeiros a chamar para o diálogo e dizer que é possível a gente ter um momento maravilhoso aqui com a música. Estive com o Zeca Pagodinho e, como eu posso não querer estar perto de um cara desse, cantando uma canção sobre Deus? Ele mesmo disse que escreveu uma música sobre os dez mandamentos. Eu quero participar disso e vincular no mais alto lugar que eu puder, para que o cara que segue o Zeca Pagodinho entenda que ele não é só cachaça. Quero que as pessoas entendam que o Zeca tem coisa boa que pode ser dividida e usada para influenciar pessoas para algo muito especial e maior do que aquilo que costumam pensar com seu preconceito.

Você acha que a igreja precisa acreditar realmente que nossa música é uma arte que pode ser usada também do lado de fora?
Com certeza. O que tenho para dizer sobre isso é que as pessoas confundem muito adoração com música. A música não é adoração, mas adoração é música. A música é uma ferramenta. Você pode escrever ou cantar uma canção, derramar seu sentimento através da adoração. Mas adoração vai muito além disso, é o resultado de uma vida, de um comportamento. A forma como você olha para as coisas, a forma como você abraça ou rejeita as pessoas. Isso fala se você é um adorador ou não.
Você pretende investir em carreira solo ou vai se dedicar só ao Preto no Branco?
Essa é uma pergunta muito delicada que vive rondando meu pensamento. A sensação que tenho é que o Preto no Branco é um filho caçulinha que acabou de nascer. Eu tenho que dar atenção para esse menino que vai fazer quatros anos ainda. Está muito cedo para ir para o plano B ou voltar a fazer o que eu estava fazendo antes. Eu não sinto que este seja o momento de ir contra as coisas, mas eu tenho pensando na minha carreira solo sim. Assim como eu gosto de falar com liberdade sobre os assuntos que o Preto no Branco trata, eu gosto de falar da forma como eu lido no meu jeito particular de falar de Deus.

Na nova canção – O Leão e a Igreja – o pr. Ed René Kivitz diz que não há preconceito na Igreja. Isso é uma utopia ou estamos realmente caminhando para quebrar esses preconceitos?
Não é uma utopia! Ele falou sobre a Igreja real de Cristo. Quando ele começa a dizer que na Igreja não existe racismo nem homofobia, ele está se referindo à Igreja real ou pelo menos como ela deveria ser. Apesar de ser uma organização, uma entidade, um ajuntamento de pessoas que se reúnem em nome de Jesus, a Igreja de Cristo é uma manifestação espiritual. No mundo espiritual, a Igreja está posicionada do mesmo jeito que ela se posicionou na antiguidade, na era primitiva. O que temos que entender hoje é que precisamos acompanhar o movimento da Igreja Primitiva. Voltar à essência e partir do ponto das palavras do próprio Cristo sobre o amor e chamar as pessoas para perto. Isso é ser Igreja. Se a gente pensar dessa maneira, com certeza a gente vai estar mais perto disso que o Ed falou na ministração.

Você já sentiu o racismo na pele?
Toda hora. Não só na igreja, mas em todos os lugares. E este é um assunto muito sério. Não é vitimismo! A gente não tem intenção nenhuma de passar essa mensagem, mas existe o preconceito. Eu não tenho problema com o cara que tem preconceito comigo por eu ser preto, porque eu também tenho meus preconceitos. Se ele ficar com o preconceito dele, quietinho, sem interferir no meu caminho, ok. Mas, se ele vem para me atrapalhar, isso já é uma covardia muito grande. O preconceito ligado ao poder que é dado às pessoas, dentro ou fora da igreja, é um perigo muito grande porque é uma oportunidade que se abre para as pessoas subjugarem as outras e aí se espalha aquele fenômeno do subjugado sempre querer subjugar alguém.

Como você vê o atual cenário político do país?
Acredito que, por um lado, toda essa discussão tem servido para alertar as pessoas. O Brasil não é mais o mesmo. Todo mundo tem algo a dizer sobre a política. Muita gente não conhecia a história de políticos em suas carreiras com deslizes gigantescos e hoje as pessoas já conhecem isso. Hoje o povo brasileiro está mais aberto, inclusive eu acredito que a Igreja tenha mudado o cenário um pouco por conta disso e, com isso, a consciência política tenha brotado. Mas eu vejo discursos de alguns políticos que não condizem com o Evangelho de Cristo, com a perspectiva do amor. Quando vemos um político com um discurso sobre ódio, de preconceito disfarçado, algo que soa bem déspota, a gente pode lidar com isso fazendo campanha, ajudando e esclarecendo um amigo. Se ainda assim nada mudar e o cara for eleito, depois de quatro anos ele vai sair. Mas, em se tratando de um pastor que abraça o discurso político de ódio de um outro político, um discurso que não tem nada a ver com as Escrituras, aí a gente vai por um caminho bem difícil. Um pastor precisa abraçar e cuidar das ovelhas. Ele foi colocado ali para isso especificamente. A gente vê um pastor abusando do poder para ganhar votos ou fazendo campanha arranjada para determinado político porque ele concorda com o que ele diz. Isso é bem triste. Espero que isso mude de alguma forma no Brasil e que a gente aprenda sobre política com as lições que já estamos tendo daqui pra frente.

E qual sua posição sobre o governo do atual presidente?
Eu não votei no atual governo, mas como brasileiro, no dia da resposta sobre quem havia ganhado as eleições, eu olhei para dentro de mim e me posicionei sobre isso. Não vou falar mal, não vou difamar. O governo que eu não acredito ganhou as eleições, então, como vou me comportar daqui pra frente? Vou ser um músico que faz parte de uma grande orquestra. Ele está ali tocando, mas se desafinar, vai comprometer todo o trabalho daquela orquestra. Então, que tal eu tocar junto com essa orquestra? Ainda que seja contra o que eu penso e que fira muitos dos meus princípios, eu entendo que esse é o momento de todo mundo torcer para que dê tudo certo com o atual presidente.

Nessa correria de agenda, dá tempo de ir a igreja?
Sim, com certeza. Eu particularmente sinto uma crise de abstinência quando não vou à igreja estar em comunhão. Nasci assim, e não consigo ficar muito tempo fora dessa realidade. Há alguns anos faço parte da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo, do pastor Ed René. Acho importantíssimo, mas fujo muito dessa afirmação de que a comunhão só poder ser de um jeito. Você pode se reunir com os amigos ou sair com sua família num dia de domingo sem peso e sem culpa, sabendo que Deus está ali com vocês, como Igreja.

O que você gosta de fazer em casa para relaxar?
Netflix. Quando não estou vendo uma série, estou pesquisando alguma para saber se é boa. Recentemente eu vi A História Sobre Deus, com Morgan Freeman. É fascinante como ele aborda a questão do olhar para as crenças e religiões e a relação de vida e morte. Breaking Bad está no topo da minha lista. Eu indico também uma série que não está mais na Netflix, mas sempre fui fã: Supernatural. Estou na 12ª temporada com os irmãos caçadores de demônio. Até parece coisa de crente, né?

Além disso, o que mais gosta de fazer?
Eu amo cinema. Não consigo ficar muito tempo sem ir ao cinema, independente da cidade. Eu paro o que estiver fazendo para ir ao cinema. Eu gosto de observar tudo, mas tenho minhas preferências. Amo Senhor dos Anéis, que enfim vai virar série. Gosto de tudo da Marvel e da DC. A gente está em uma época em que as mulheres têm ganhado mais poder na sociedade e vai surgir a Capitã Marvel para derrotar o cara que os homens não conseguiram vencer.

Pegando esse gancho, como você vê a questão do empoderamento feminino?
Acredito que o feminismo equilibrado funcione. Não só para tornar as mulheres mais poderosas, mas para limitar alguns homens. Tem muitos exemplos de machismo na própria Bíblia em questões do Velho Testamento. O caso da mulher adúltera é um clássico exemplo disso. A forma como Abraão se relacionou com a escrava, tantas coisas que aconteceram, mas que, na cultura, não era pecado e não feria a sociedade. Quando observamos esse assunto pela história, a gente percebe que o feminismo foi pensado a partir do momento em que as mulheres começaram a se sentir desrespeitadas pelos homens. Eu me atrevo a dizer que é um movimento que não deveria existir, mas existe porque é necessário. Não precisaria existir se os homens fizessem o papel de cuidar das mulheres e respeitá-las desde sempre. Além de respeitar a opinião delas e deixar que as mulheres sejam elas mesmas sem a nossa interferência ou imposição. Um cara que é cristão e age assim, é do Islamismo e não sabe. Pratica as faces do Islã na forma como enxerga a mulher e acha que isso é cristão.

Quais são os próximos projetos do Preto no Branco?
Tem um clipe que vai vir por aí. A gente faz coisas que são ousadas como resultado de um comportamento. Nenhum artista ou banda gospel se atreve a fazer coisas do tipo, mas todo mundo tem vontade de fazer. Os caras não se dão ao luxo porque sabem que algumas portas vão se fechar, vão receber represálias de algum grupo, pastor ou contratante. Mas a gente não tem muito medo disso. A gente tem cuidado de preservar as alianças e respeito, mas não tem medo de tratar sobre nenhum assunto. Já falamos sobre pedofilia (Não Quero Ser Mais Eu), ateísmo e cristianismo (Ninguém Explica Deus), a realidade do povo brasileiro politicamente (Ai Meu Deus do Céu), crítica social, corrupção dentro da própria igreja, a forma como líderes espirituais ganham tanta grana em cima da fé do povo cristão. Em nenhum momento estamos falando da Igreja, mas de pessoas que estão no meio da Igreja e se aproveitam dela. Nós somos uma família e, se você tem um tio que faz besteira, você não vai falar sobre isso? A gente precisa ir para o debate sobre essas coisas. Enquanto a gente fizer vista grossa sobre esses assuntos, teremos os mesmos problemas. A gente tem que tratar cada um deles, exatamente porque somos família. Temos que falar sobre isso de forma respeitosa e denunciar o sistema que está no nosso meio. Esse novo trabalho é sobre preconceito, mas não vou dizer sobre qual tipo. Todo tipo de preconceito deveria ter sido pregado na cruz com Jesus. Ele suportou isso para que todo esse mal tivesse um fim. Mas, algumas pessoas continuam investindo para que coisas assim não morram. Então, a gente precisa falar e é o que a gente vai fazer. Pleno.News

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