O governo brasileiro ficou de fora de uma aliança mundial para dar
uma resposta à pandemia e acelerar a produção de uma vacina. Nesta
segunda-feira, convocados pela UE e pela ONU, governos de todo o mundo
anunciaram doações e o compromisso de agir de forma conjunta.
A
ideia é de que a comunidade internacional apenas conseguirá se proteger
do vírus quando uma vacina for produzida e distribuída.
O
projeto contou com a liderança da França, Alemanha, Japão, Omã, Noruega,
Canadá, Espanha, Reino Unido e Itália. Mas o processo também foi
apoiada por China, Jordânia, México, Austrália, África do Sul, Arábia
Saudita, Mônaco, Turquia, Suíça, Israel, Emirados Árabes Unidos, Kuwait,
Coreia do Sul, Suécia, Dinamarca, Luxemburgo, Hungria, Polônia,
República Tcheca, Sérvia, Bulgária, Bélgica, Malta, Áustria, Grécia,
Irlanda, Portugal, Estônia, Croácia e Holanda, além do Banco Mundial,
Fórum Econômico Mundial e outras instituições.
Procurado nos últimos dias pela reportagem, o Itamaraty sequer deu
uma resposta sobre o evento. O Ministério da Saúde também ficou em
absoluto silêncio. Nas últimas semanas, o governo brasileiro tem
criticado a OMS, se distanciando de iniciativas globais e causando
sérias preocupações internacionais.
Já
o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, foi alvo de chacota nos
bastidores das agências internacionais ao apontar para o risco de um
"plano comunista" diante da pandemia.
Ao longo das últimas
décadas, o governo brasileiro passou a ser um dos principais atores na
defesa do acesso a medicamentos, um dos pontos centrais da reunião
virtual realizada nesta segunda-feira. Entidades lamentaram a ausência e
a transformação na postura do país.
Além do Brasil, a ausência
dos EUA também evidenciou a dificuldade de unir o planeta por uma ação
coordenada. O plano tampouco contou com Rússia e Índia.
O governo
do México indicou que vai tentar coordenar a região latino-americana
para apoiar a iniciativa. Mas não indicou quais países fariam parte.
Ainda
assim, algumas das maiores democracias do mundo mostraram seu
engajamento num compromisso para acelerar o desenvolvimento de vacinas e
tratamentos, além de uma garantia de que haverá um acordo de
distribuição para os países mais pobres.
Ursula von der Leyen,
presidente da Comissão Europeia, abriu a conferência com a promessa de
que o evento iria "unir o mundo, nos quatro cantos do planeta". "Esse
dia vai ser marcado como um ponto de virada na luta contra a pandemia",
afirmou.
Para lidar com a crise, a UE coletou doações no valor de
mais de 7,4 bilhões de euros para acelerar pesquisas e garantir
tratamento e vacinas. Também houve um compromisso de que, uma vez
produzida, vacina será distribuída a todos os que necessitam.
Mas
também ficou claro que a conferência era um ato político de chancela à
OMS, duramente criticada pelos EUA e por governos como o de Jair Bolsonaro. A entidade registrou um corte de recursos por parte de Donald Trump, o maior doador da agência.
Durante
o evento, porém, vários foram os governos que saíram ao resgate da
entidade e prometeram criar uma frente comum para desenvolver a vacina.
Emmanuel
Macron, presidente da França, anunciou mais recursos para a OMS e 500
milhões de euros para o novo fundo. "Precisamos de mais OMS", indicou.
Segundo ele, seria um "erro maior" tomar medidas isoladas. "Só sairemos
dessa situação se estivermos juntos", disse.
Para o francês, a
nova aliança tem como objetivo ainda garantir que a vacina, uma vez
produzida, não seja apenas entregue a quem pagar mais por ela.
Tedros
Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, alertou que o maior teste para o
mundo não é apenas produzir a vacina. Mas garantir que ela chegue a
todos.
Angela Merkel, chanceler da Alemanha, usou seu discurso
para reforçar a ideia de apoiar o multilateralismo. O primeiro-ministro
do Japão, Shinzu Abe, anunciou milhões de euros em apoio.
Erna
Solberg, primeira-ministra da Noruega, alertou que "só parcerias e
entidades multilaterais" poderão dar uma resposta e prometeu mais
dinheiro para a OMS. Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá,
defendeu que haja uma "resposta global". "Não podemos nos isolar. É o
momento de liderança global", disse. Pedro Sanchez, presidente do
governo da Espanha, anunciou 150 milhões de euros em doações e fez um
alerta: "quanto mais dividimos estivermos, maior será o risco".
Boris
Johnson, primeiro-ministro britânico, foi outro que alertou que nenhum
país terá "êxito se agir sozinho". Para o chefe-de-governo em Londres,
países precisam se unir para "criar um escudo" em suas populações.
As
autoridades sauditas, presidentes do G-20, também participaram e
anunciaram US$ 500 milhões à iniciativa. Mas usaram seu discurso para
pedir uma "resposta global". No G-20, os sauditas não conseguiram
garantir o estabelecimento de um plano mundial contra a pandemia.
Giuseppe
Conte, primeiro-ministro italiano e próximo presidente do G-20, deixou
claro que o multilateralismo será sua prioridade no comandado grupo. "O
mundo só tem uma alternativa: a cooperação", disse o italiano,
prometendo aumentar recursos para a OMS.
A iniciativa ainda reuniu
num só evento rivais políticos. Rei Abdullah II da Jordânia pediu o
fortalecimento de uma nova vertente de integração para garantir uma
"interdependência positiva" entre os países. Recep Erdogan, presidente
da Turquia, pediu "responsabilidade global". O primeiro-ministro de
Israel, Benjamin Netanyahu, defendeu uma "parceria global". "Só estamos
no final do começo", alertou.
Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul e falando em nome da União Africana, também anunciou contribuições financeiras.
Antonio
Costa, primeiro-ministro de Portugal, alertou que a crise "expõe o
óbvio: somos uma só humanidade vivendo num único mundo". O país prometeu
10 milhões de euros para acelerar a produção da vacina, um euro por
cada habitante do país.
Para o secretário-geral da ONU, Antônio
Guterres, "esse é a liderança que o mundo precisa hoje". Ele, porém,
insistiu que a nova vacina se transforme em um bem público mundial. UOL
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