Marcos Aurélio (mais à direita) com os futuros ministros Onyx Lorenzoni
(Casa Civil, à direita)), General Augusto Heleno (Defesa, ao centro) e
Marcos Pontes (Ciencia e Tecnologia)
O empresário Marcos Aurélio Carvalho, sócio de uma empresa ligada à
investigação sobre envio em massa de mensagens via WhatsApp durante as
eleições deste ano, foi nomeado nesta segunda-feira (5) para integrar a
equipe de transição do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Carvalho,
que é sócio da maior fornecedora da campanha de Bolsonaro, diz que vai
cuidar da área de comunicação da equipe de transição. Seu salário como
membro da equipe será de R$ 9,9 mil.
O empresário é sócio da AM4 Brasil Inteligência Digital. A empresa está envolvida no caso investigado pela Polícia Federal e pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
No dia 18 de outubro, uma reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo revelou que empresários teriam comprado pacotes de disparos de mensagens de WhatsApp com conteúdo anti-PT durante o primeiro turno das eleições presidenciais. Essa prática é considerada ilegal.
No dia 26 de outubro, uma reportagem do UOL mostrou que a AM4 contratou disparos de mensagens junto a outra empresa investigada, a Yacows. Inicialmente, a AM4 havia dito que não tinha contratado esse tipo de serviço.
A reportagem também mostrou que, no mesmo dia em que a matéria da Folha foi
publicada, dados das campanhas contratadas pela AM4 junto à Yacows
foram apagados. Procurada, a AM4 disse que não foram seus funcionários
que apagaram os dados do sistema.
Segundo dados da Justiça Eleitoral, a AM4 é a maior fornecedora da campanha de Jair Bolsonaro. Ela recebeu R$ 650 mil para
conduzir a campanha do então presidenciável na internet. Esses valores
podem ser ainda maiores porque o prazo final para a prestação de contas
de quem disputou o segundo turno termina no dia 17 de novembro.
Nomeado diz que se afastou do comando da empresa
Segundo o cadastro de pessoas jurídicas da Receita Federal, Marcos
Aurélio é um dos três sócios da AM4, que tem sede no município de Barra
Mansa (RJ). Nesse cadastro, ele aparece como "sócio-administrador" da
empresa ao lado do seu irmão, Magno Carvalho, e do amigo Alexandre José
Martins.
Na condição de sócio-administrador, Marcos Aurélio estaria, em tese, impedido de assumir o cargo para o qual foi nomeado.
Isso porque a legislação impede que servidores públicos federais atuem como gestores ou administradores de empresas privadas.
Procurado, o empresário informou que continua sócio da empresa, mas se
afastou da sua direção. "Não há impeditivo em ser sócio", disse.
Sobre seu afastamento da direção da empresa, ele afirmou que recebeu o
convite para integrar o grupo de transição na quinta-feira da semana
passada (1º) e que, como a sexta-feira (2) foi feriado, ele ainda
aguarda a atualização dos dados da empresa na Junta Comercial do Rio de
Janeiro.
Segundo Carvalho, o convite para integrar a equipe de
transição foi feito pelo deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS),
apontado como futuro ministro da Casa Civil de Bolsonaro.
A
reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da equipe de
transição de Bolsonaro para questionar os termos nos quais a nomeação de
Marcos Aurélio Carvalho foi feita e se o fato de sua empresa estar
vinculada à investigação sobre o uso em massa de mensagens via WhatsApp
durante as eleições não criaria conflito de interesse.
Até a última atualização desta matéria, a equipe não respondeu as questões.
Empresa diz não ter cometido ilegalidade
A AM4 enviou uma nota à reportagem sobre a situação da empresa em
relação à investigação do envio de mensagens via WhatsApp. Leia abaixo,
na íntegra:
"A AM4 não faz, não contrata, não recomenda e
também considera uma estratégia ineficaz o envio em massa de WhatsApps
para números não cadastrados organicamente. Esclarece ainda que a AM4
não foi citada na investigação eleitoral em questão.
Sobre
o fato de o registro do envio de WhatsApps para 8.000 e-mail
cadastrados (ou seja, dentro da lei) terem sido apagados da plataforma
Bullkservice, a AM4 mais uma vez vem a público dizer que não foi
responsável por isso, e que já notificou extrajudicialmente a empresa
dona da plataforma (Yacows) sobre a razão de isso ter acontecido. Também
pediu esclarecimentos sobre o por que de o pagamento de R$ 1.680,00
pagos por esse envio ter sido estornado em forma de créditos.
O
envio de 8000 WhatsApps não constitui disparo em massa e, sendo eles
números de telefones cadastrados, para informar a doadores de campanha
mudança de número de suporte, como já noticiado, estão rigorosamente
dentro do que determina a legislação eleitoral.
A AM4
deseja que esses fatos sejam elucidados e considera que a omissão dos
seus esclarecimentos só ajudam a confundir, em vez de bem informar." Informações noticias.uol