Nesta terça-feira (20), data celebrada como o Dia da Consciência Negra, o Pleno.News
conversou com o pastor Marco Davi Oliveira, da Nossa Igreja Brasileira,
localizada no centro do Rio de Janeiro. Apesar de acreditar que a
população negra conquistou muitos espaços, Marco Davi declara que os
mesmos ainda são pequenos e há muito a se fazer.
O ano de 2018 foi de verdadeiros contrastes. Enquanto 11 brasileiros negros foram reconhecidos por uma grande premiação em Nova Iorque e tivemos ainda a nomeação do subtenente Hélio Fernando Barbosa Lopes como deputado federal mais votado do Rio de Janeiro, com 345.234 votos, também vimos recentemente um segurança negro ser morto por um policial nos Estados Unidos
Autor do livro A Religião mais Negra do Brasil: Por que os Negros
fazem Opção pelo Pentecostalismo?, pastor Marco Davi Oliveira também
avalia como a igreja tem se posicionado diante desses momentos e como
ela enxerga a realidade da população negra no país.
Passados 130 anos desde a abolição da escravatura, o que
ainda há para ser conquistado pela população negra no país e o que há a
ser comemorado principalmente por esse Dia da Consciência Negra?
A população negra obviamente conquistou mais espaços, mas são bem
pequenos diante de 400 anos de escravidão. A gente sabe que houve
avanço, possibilidades de acesso à educação e a emprego. Houve um
pouquinho de melhorias, mas a gente acha que precisa se conquistar muita
coisa ainda. Infelizmente, a população negra é a que mais é assassinada
e não está onde deveria estar. A gente está num período de muita
decisão e preocupações. Tem muita coisa para conquistar na mídia, na
política, tem muito o que conquistar na área de educação mesmo. Andamos
um pouquinho, é óbvio, mas o racismo estrutural ainda está bem presente
nesse país.
Sendo o Brasil um povo miscigenado, acredita que realmente conhecemos nosso próprio DNA?
O problema é quando a miscigenação escurece e a dificuldade para aqueles
miscigenados de pele escura é muito maior. Eu não gosto da expressão
miscigenação porque ela é fruto da legitimação de estupro de indígenas e
de negras. Também tivemos um processo de ideologia de branqueamento no
Brasil. Então, é uma miscigenação forçada, não genuína e não natural por
isso não gosto muito dessa expressão e nós vemos tantas confusões na
nossa própria história.
Em seu livro A Religião mais Negra do Brasil, você tenta
explicar o porquê da maioria da população negra do Brasil optar pelo
pentecostalismo. Como avalia esse fenômeno diferente do que acontece nas
igrejas consideradas históricas?
São várias coisas que fazem os negros optarem pelo pentecostalismo. A
própria liturgia no sentido da valorização do corpo, músicas mais
fincadas talvez na própria cultura, embora os ritmos africanos sejam
demonizados em algumas igrejas. Mas acho que a gente pode pensar no
limite estabelecido dentro da própria igreja pentecostal. Embora
rejeitem um pouco da africanidade, há muita africanidade mesmo não
querendo na própria liturgia. Então, talvez isso chame muito mais
atenção do que nas igrejas históricas, embora a Igreja Batista é a que
mais se aproxima dos negros, mas ainda falta muito para caminhar
O racismo é um assunto que a igreja evangélica realmente se
envolve ou ainda estamos encobertos por um véu da religiosidade e
achamos que isso não é algo que acontece em nosso meio?
A Igreja ainda não se envolve a contento com a questão racial. É um tabu
para a igreja, mas está acontecendo uma coisa interessante no movimento
de algumas igrejas refletirem. A gente já percebe uma mudança muito
grandes nesses quase 20 anos em que eu trabalho essa questão. Hoje a
gente vê uma igreja querendo discutir mais sobre isso. Mesmo que seja
discutir para fechar a questão, mas estamos vendo a igreja se
preocupando com isso. A realidade do movimento negro evangélico, por
exemplo, é fruto de que assunto está efervescente nas igrejas
evangélicas, sobretudo nas pentecostais.
O quanto a cultura negra colaborou para o Evangelho e nossa arte?
Eu não posso dizer que a cultura negra contribuiu para o Evangelho. O
Evangelho é ele em si mesmo e não tem contribuição. O Evangelho é o que
Cristo fez por nós, não aquilo que fazemos por Ele. O que fazemos por
Ele é consequência da nossa gratidão por tudo o que Ele já fez. Então,
não há contribuição da cultura para o Evangelho. O Evangelho pode
influenciar a cultura, trabalhar com a cultura ou contra ela, mas ela
não contribuiu para o Evangelho especificamente. Muitos contribuíram
para a arte desse país. Não sei se poderia citar muitos evangélicos, mas
existe muita gente anônima contribuindo para a arte e para a cultura.
Pessoas evangélicas estão fazendo coisas extraordinárias nesse país e
nem vou denominá-las, mas vemos que estão contribuindo para a arte e
para a cultura. Isso tudo faz parte da graça de Deus. Deus usa a todos
para Sua honra e para a Sua glória mesmo que a pessoa não esteja em uma
igreja evangélica. Informações pleno.news