A pastora evangélica e advogada indicada para comandar o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves,
deu indicações de como deve conduzir a Pasta em uma pregação de 2013,
na Igreja Primeira Batista, em Campo Grande. Em um discurso por vezes
inflamado, outras, emocionado, tratou de temas que serão chave no seu
ministério, como a questão indígena, LGBT, mulheres e crianças.
Para a futura ministra, é a igreja evangélica que “vai mudar a
nação”, não a política. Além disso, disse que não é verdade que o aborto
é questão de saúde pública, como defendem especialistas, e que “ninguém
nasce gay”. Reservou a parte final de sua palestra para criticar
frontalmente o infanticídio indígena.
“Naquele
dia, Deus renovou nossas forças. Porque Deus nos disse que não são os
deputados que vão mudar essa nação, não é o governo que vai mudar esta
nação, não é a política que vai mudar esta nação, que é a igreja
evangélica, quando clama. É a igreja evangélica, quando se levanta (que
muda a nação)”, disse a futura ministra, emocionada.
O dia a que ela se referia foi quando a Bancada Evangélica, para a
qual ela prestava assessoria jurídica na casa, conseguiu barrar um
projeto de lei que descriminalizava o aborto. Na época, segundo conta
Damares, não tinham votos suficientes, mas o revés se deu após uma noite
de orações que ocorreu no 10º andar da Câmara dos Deputadas, na véspera
da votação.
A futura ministra já se declarou hoje também
contrária ao aborto. Na pregação de 2013, chegou a dizer que as
declarações de ministros de Saúde da época de que aborto é uma questão
de saúde pública eram mentirosas. “Quantas mulheres vocês enterraram
porque morreu por causa de um aborto?”, questionou. “Eles manipulam os
dados, as estatísticas, as informações para impor na sociedade
brasileira uma cultura de morte”.
A fala da pastora na igreja
durou pouco mais de uma hora e hoje tem mais de 630 mil visualizações no
Youtube. Ela trata sua palestra como um alerta aos evangélicos, a quem
diz que devem abrir o olho.
‘Ninguém nasce gay’
Diferentes
cartilhas são apresentadas num painel atrás de Damares para dizer que a
igreja passa por muito desafios. Ela mostrou livros e trechos de
cartilhas que, segundo disse, circulavam em escolas públicas ou eram
distribuídas pelo Ministério da Saúde.
Dentre as obras criticadas
pela futura ministra, “Menino brinca de boneca?” e “King e King”. Esta
segunda trata de um príncipe que acaba não com uma princesa, mas um
príncipe encantado.
Damares questionou o fato de crianças terem
contato com essas obras e orientou os pais a olharem as mochilas e os
livros ditáticos de seus filhos.
“Não há prova científica que
exista gene gay. Não há prova científica que o gay nasça gay. Se
tivesse, já tinham jogado na nossa cara”, disse na palestra em 2013. “A
homossexualidade, ela é aprendida a partir do nascimento, lá na
infância. A forma como se lida com a criança. Mas ninguém nasce gay”.
O
comentário veio em razão de uma propaganda veiculada na Europa, que ela
mostrou à plateia, que mostra um bebê com uma pulseirinha de
recém-nascido, em que se lê “homossexual”. A comunidade LGBT já mudou o
termo “escolha sexual” para “orientação sexual”, por acreditar que não é
uma escolha e se nasce assim.
Nesta tarde, durante o anúncio de
sua indicação, a futura ministra disse ter uma boa relação com o
movimento LGBT. “Eu tenho entendido que dá pra gente ter um governo de
paz entre o movimento conservador, o movimento LGBT e os demais
movimentos”, completando que irá lutar contra a violência à comunidade
LGBT.
Futura ministra critica infanticídio indígena
Depois
de um imbróglio sobre para qual ministério iria a Funai, o governo de
transição anunciou nesta tarde que iria para a Pasta de Damares. Na sua
palestra em 2013, falou sobre o infanticídio indígena, “túmulos em
aldeias indígenas”. A futura ministra tem um filha adotiva indígena.
Emocionada,
mostrou fotos que bebês que foram salvos por missionários e lembrou que
tem um projeto de lei na Câmara que proíbe o ato, mas que está parado.
“(Está parado)
Porque diz que a gente não pode se meter, porque é cultura. É cultura, o
índio tem direito de matar. A gente é evangélico e diz que não”, disse. Informações Estadão