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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Escritor lança livro de poesias feito durante internação em clínica psiquiátrica

RIO — Esqueça aquela poesia que fala do amor apaixonado. Essa não é a praia do escritor João Pires da Gama, de 25 anos. Pelo menos não na obra “Para todos os corações selvagens” (Editora Multifoco), escrita durante uma de suas internações psiquiátricas — foram dez ao todo, desde os 15 anos. O jovem, que sofre de bipolaridade, síndrome de Borderline e depressão crônica, fala com naturalidade desconcertantes sobre seus transtornos, os abusos sexuais que sofreu e suas viagens ao inferno da bebida e das drogas. Há três meses de alta, ele garante que hoje os seus vícios são apenas o cigarro e a Coca-Cola. 

— Hoje em dia eu estou estável, me tratando com remédios. Foi difícil chegar até aqui — afirma ele, lembrando que o livro foi escrito após uma tentativa de suicídio — Escrevi cerca de cem poemas ao todo e escolhi alguns para publicar. Quis mostrar, com a poesia, aquilo que não se fala. Os demônios, os caminhos tortuosos da vida, a obscuridade da alma, a dor, o sofrimento.  

No poema que abre a publicação e que dá nome ao livro, João diz: “Eu e meu coração selvagem. Que bela dupla nós somos. Eu pego um táxi sem dinheiro. Eu bebo, eu bebo, eu bebo. (...) Eu e o meu coração selvagem. E o gosto por viver intensamente. Em todas as horas eu ardo. Todos os dias, todos os dias... E à noite eu padeço. Em pedaços, sempre em pedaços (...)”. 

— Meus textos trazem imagens e sensações. Foram feitos para mexer com os sentidos mesmo. Além da dependência, falo de outros temas como prostituição, ocultismo e agnosticismo — explica. 

Morador do Leme, João escolheu o bairro por ter uma história com aquela que é sua musa inspiradora: Clarice Lispector. Ele conhece o endereço em que a escritora vivia (Rua Gustavo Sampaio 88) e sabe de cor frases e citações inteiras da escritora. 

— Clarice é minha Bíblia. Já li todos os livros. Num de seus textos ela diz que gostaria de ter um filho chamado João. Daí eu penso: será que sou eu? — pergunta ele, enquanto acende mais um cigarro. 

No apartamento em que divide com a mãe e os gatos Frida e Noel, uma impressionante biblioteca chama a atenção pela diversidade de obras. De Clarice, é claro, passando por Baudelaire e Sylvia Plath, a livros de tarô e I Ching, suas mais recentes paixões. 

— Já estou até dando consultas. Sou meio bruxinho. Aliás, o I Ching está bom para mim. Diz que eu vou atravessar grandes águas que vão me levar à fortuna e ao sucesso — diz. 

Nesse caldeirão em constante ebulição que é a mente do escritor, duas novas obras estão em andamento: “A rainha solitária” e “O caçador". Por meio de sua história e de suas escritas, João sabe que vai dar voz a muitas pessoas que passam por problemas semelhantes. 

— Quero mostrar que existe vida após uma experiência como essa. Desde que a pessoa busque um chão, que encontre uma espiritualidade, uma força superior. Não precisa escolher uma religião. Pode simplesmente acreditar em si mesmo. Acho que sou um exemplo de sobrevivência e esperança — comenta.  O Globo

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