No meio das situações de pânico, onde a solidariedade e amor ao
próximo são mais colocados à prova, é possível observar pessoas que se
destacam pela capacidade de olhar para os que estão ao seu redor, e
ajudá-los, mesmo que a sua vida esteja em perigo.
Esse é o caso de Silmara Moraes, de 49 anos, a mulher que salvou
cerca de 60 alunos durante o massacre de Suzano, na Escola Estadual
Professor Raul Brasil, na quarta-feira 13 de março.
Silmara trabalha há 10 anos na escola, como merendeira, e no momento
do ataque utilizou um freezer e mesas para bloquear a passagem dos
criminosos no lugar onde havia dezenas de alunos. Caso ela não tivesse
tal iniciativa, o número de mortos poderia ter sido muito maior.
Vista como uma verdadeira heroína pelos alunos e familiares,
a “Silmara Maravilha”, como foi apelidada, dedica sua vida ao Reino de
Deus como obreira na igreja Assembleia de Deus. Ela disse que não se
enxerga assim, porque tudo o que fez foi por amor.
“Ainda não caiu a ficha. Eu não vejo por esse lado, como uma heroína.
Eu vejo assim, como um coração de amor. Eu faria isso em qualquer lugar
que estivesse, acho que seria essa a minha reação, pelo amor que tenho
àquele lugar”, disse ela ao Estadão.
Silmara Moraes contou que ao retornar para a Raul Brasil na
segunda-feira, foi recebida com emoção pelos alunos, que fizeram questão
de demonstrar carinho e consideração pelo gesto de coragem da humilde
evangelista.
“Segunda não foi bom chegar ali, deu um apertinho no coração. Mas
hoje, quando chegaram os alunos, foi bom. Uns vinham, choravam,
abraçavam, agradeciam. Foi um momento muito bom, saber que vão voltar”,
disse ela.
Uma heroína aos pés da cruz
Silmara é casada com um pastor da Assembleia de Deus há 27 anos, em
Guaianases, distrito do extremo leste da cidade de São Paulo. Além da
sua iniciativa em querer proteger os alunos no massacre de Suzano, a
vida religiosa da evangélica também ganhou destaque na mídia.
Além de já ter sido regente de louvor, ela também atuou na “Obra de
Amor”, grupo que presta auxílio para mães carentes que não possuem
condições de comprar enxoval para seus filhos. Atualmente ela ajuda como
evangelista na igreja, ao lado do esposo.
O testemunho cristão de Silmara também é convertido nas merendas do colégio.
“Determinei que iria entrar como merendeira. Mas o meu objetivo não é
morrer como merendeira, é algo mais. A gente vai ficando, se
envolvendo”, disse ela, que hoje faz do seu trabalho uma forma de ajudar
os alunos mais carentes que não podem levar comida suficiente para se
alimentar no colégio.
“A gente vê muito isso, que tem crianças carentes. Como o potinho
geralmente é transparente, dá para ver. Quando a gente vê que não tem
mistura, a gente abre e coloca mistura lá dentro e deixa para a hora que
eles vêm comer”, diz Silmara.
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