O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
entra em um pequeno auditório da superintendência da Polícia Federal em
Curitiba. Lá dentro, é esperado pelos jornalistas do EL PAÍS e do
jornal Folha de S. Paulo. Chega de tênis, camisa social, calça
jeans e paletó cinza, e um calhamaço de papeis embaixo do braço.
Senta-se numa mesa ao centro com alguns poucos microfones. Não está
feliz nem triste. Nem tampouco envelhecido. Mas está diferente. “Tudo
bem?”, diz ele aos presentes, ainda com o rosto um pouco fechado, e se
dirige para uma mesa improvisada ao centro, onde fica de frente para o
repórter do EL PAÍS e para Mônica Bergamo da Folha, que vão
conduzir a entrevista. “Antes de vocês fazerem a primeira pergunta...
quero fazer um micropronunciamento para tratar especificamente do meu
caso, e depois do caso do Brasil”, diz ele, em tom grave.
Suas mãos tremem um pouco quando começa a ler. Seu rosto fica
vermelho olhando para o texto que traz um rosário de críticas contra
seus julgadores. “Sei muito bem qual lugar que a história me reserva. E
sei também quem estará na lixeira.” Lula critica o ex-juiz Sergio Moro,
responsável pela sua condenação, a Operação Lava Jato,
e o procurador Deltan Dallagnol. “Reafirmo minha inocência, comprovada
em diversas ações”. O silêncio é absoluto, apesar da presença de
delegados da Polícia Federal e de três oficiais armados, todos a serviço
da PF, que está sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça, conduzido
por Sergio Moro.
Lula está engasgado e sabe que esta entrevista é a oportunidade para falar depois de um ano silenciado pela prisão em abril de 2018.
A conversa tem início e o ex-presidente ainda mantém um semblante
sério. Mas uma pergunta quebra a rigidez. Quando é questionado sobre a
morte do irmão Vavá, em janeiro deste ano, e o neto, Arthur Araújo Lula da Silva, de 7anos, dois meses depois.
“Esses dois momentos foram os mais graves”, lembra ele, citando também a
perda do ex-deputado Sigmaringa Seixas, morto no final do ano passado.
“O Vavá é como se fosse um pai pra família toda. E a morte do meu neto
foi uma coisa que efetivamente não, não, não… [pausa e chora]. Eu às
vezes penso que seria tão mais fácil que eu tivesse morrido. Porque eu
já vivi 73 anos, eu poderia morrer e deixar meu neto viver."
“Não tem problema que eu fique aqui para o resto da vida. Quem não dorme bem é o Moro”
Lula diz que há outros momentos que o deixam triste, com uma mágoa
profunda. “Quando vejo essa gente que me condenou na televisão, sabendo
que eles são mentirosos, sabendo que eles forjaram uma história, aquela
história do powerpoint do Dallagnol, aquilo nem o bisneto dele vai
acreditar naquilo. Esse messianismo ignorante, sabe? Então eu tenho
muitos momentos de tristeza aqui. Mas o que me mantém vivo, e é isso que
eles têm que saber, eu tenho um compromisso com este país, com este
povo”, completa.
Começa a entrevista, que virou caso de Justiça.
Só foi realizada após a interferência do Supremo Tribunal Federal. Uma
conversa que vai durar duas horas. E o ex-presidente começa a relaxar. É
o Lula de sempre. Ele está igual. Quem esperava vê-lo envelhecido ou
derrotado, se frustra. Ele tem fúria. E obsessão para provar sua
inocência. “Não tem problema que eu fique aqui para o resto da vida.
Quem não dorme bem é o Moro, Dallagnol e o juiz do TRF-4 [que confirmou
sua condenação em segunda instância].”
Os detalhes desta conversa serão publicados ao longo do dia no site e nas redes sociais do EL PAÍS.
. @LulaOficial: “Tenho certeza de que durmo todo dia com a minha consciência tranquila. E tenho certeza de que o Dallagnol e o Moro não dormem.”— Henrique Lula Fontana (@HenriqueFontana) April 26, 2019
Vídeo da Folha de S.Paulo pic.twitter.com/T8cZHfGr9k
Ex-presidente Lula: “Sei muito bem qual lugar que a história me reserva. E sei também quem estará na lixeira” https://t.co/LhPvtFGCNO pic.twitter.com/yQi0PbNa1W— EL PAÍS Brasil (@elpais_brasil) April 26, 2019
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