Amigo do presidente Jair Bolsonaro e suspeito de ser laranja do senador Flávio Bolsonaro, o ex-policial militar Fabrício Queiroz passou por uma cirurgia, no mês passado, para a retirada da próstata. Antes de ir para o hospital, ele fez questão de entrar em contato com um amigo para deixá-lo a par da situação. Em mensagem de áudio a que VEJA teve acesso, Queiroz falou de sua saúde, debilitada desde que começou a lutar contra um câncer no intestino, e também dos favores que deve.
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| Ex-assessor de Flávio Bolsonaro passou por cirurgia no mês passado ./VEJA | 
“Valeu, valeu, meu irmãozão. Obrigado por tudo aí, tá? Gratidão não 
prescreve, cara, não prescreve mesmo. O que você está fazendo pelas 
minhas filhas aí, cara, não tem preço. Serei eternamente grato, 
entendeu?”, diz.
OUÇA O ÁUDIO DE QUEIROZNo mesmo áudio, o ex-policial mostra preocupação com o surto de coronavírus em São Paulo, mas acredita que, assim como ele, os brasileiros vão conseguir atravessar esse momento difícil. “Amanhã, estou me submetendo a essa cirurgia grande aí, anestesia geral, entendeu. Esse problema aqui em São Paulo está demais também, de coronavírus. Se Deus quiser, vou sair dessa aí, e todo o povo brasileiro também, né, irmão? A gente se vê. Assim que eu terminar a cirurgia, eu recuperar, eu ligo para você.
Forte abraço.” O amigo não foi 
identificado. VEJA também obteve imagens do ex-policial captadas no dia 
em que ele se submeteu à cirurgia para a retirada da próstata.
A gratidão de Queiroz interessa a altas autoridades da República. O 
ex-policial militar ganhou notoriedade depois de o órgão de inteligência
 financeira do governo – o antigo Coaf, rebatizado de UIF – detectar que
 ele movimentou uma dinheirama incompatível com sua remuneração mensal 
quando trabalhava no gabinete do então deputado estadual Flávio 
Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. Entre 2014 e 2015, foram 5,8
 milhões de reais. 
Desde então, há um esforço nos bastidores para manter Queiroz 
escondido – e calado – até que seus advogados e os de Flávio Bolsonaro 
consigam suspender ou arquivar o caso na Justiça. 
A ofensiva nesse 
sentido é incessante e abrange da primeira instância ao Supremo Tribunal
 Federal (STF). No último dia 11 de março, a desembargadora Suimei 
Cavalieri, do Tribunal de Justiça do Rio, suspendeu a investigação da 
rachadinha a pedido da defesa de Flávio Bolsonaro. 
Menos de duas semanas
 depois, Suimei derrubou a sua própria decisão. O recuo da magistrada 
deixou o entorno de Bolsonaro preocupado. 
Pessoas próximas ao presidente
 temem que a Justiça do Rio, aproveitando-se da debilidade demonstrada 
pelo mandatário na crise do coronavírus, decrete alguma medida contra 
Queiroz e seus familiares, como uma prisão preventiva. Isso, alegam os 
bolsonaristas, poderia levá-lo a ser cooptado por adversários do 
presidente, que o obrigariam a testemunhar contra Jair e Flávio 
Bolsonaro.
 
    
Como se sabe, a primeira-família da República debita tudo na conta 
das grandes conspirações contra ela. A investigação da rachadinha, por 
exemplo, seria uma armação do governador do Rio, Wilson Witzel, com o 
objetivo de impedir a reeleição de Bolsonaro. Há um problema de origem 
nessa tese. 
O relatório do Coaf sobre Queiroz é de janeiro de 2018. Jair
 e Flávio tomaram conhecimento do documento entre o primeiro e o segundo
 turnos daquela eleição, quando decidiram exonerar o faz-tudo da 
família. Naquela época, reta final da campanha, o filho mais velho do 
presidente trabalhava pela eleição justamente de Witzel, que hoje sim é 
um rival da família. Até as transações suspeitas serem detectadas, 
Queiroz era um mandachuva no gabinete de Flávio na Assembleia do Rio. 
Tinha poder para contratar quem bem entendesse. Em contrapartida, 
segundo a investigação, recolhia parte dos salários dos servidores. Foi 
ele quem empregou a mãe e a ex-mulher do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega
 no gabinete. 
Morto numa operação policial realizada em janeiro, Adriano
 era acusado de chefiar um grupo de extermínio que atuava para uma 
milícia. Na década passada, quando respondia por homicídio, foi 
defendido por Jair e Flávio Bolsonaro, que dispensaram a ele a alcunha 
de herói.
O outrora poderoso Queiroz também empregou no gabinete de Flávio duas
 filhas, Evelyn e Nathália, que lhe devolviam parte do que recebiam como
 salário. São a elas que ele faz menção no áudio. É de um futuro 
tranquilo para elas que depende a sua gratidão. 
 






 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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